[Valid Atom 1.0] [Valid Atom 1.0] O Mundo Mágico da Fantasia Contos Infantis: 2013

Olá, amiguinhos!

15 de dezembro de 2013

O Reino de Cristal


Era uma vez, em uma aldeia à beira de um caudaloso rio, um casal de pescadores muito bondosos que sonhavam em ter um filho. Passaram-se os anos sem que tivessem a felicidade de embalar um bebezinho nos braços. Esperançosos, pediam ao bom Deus que atendesse as suas preces e abençoasse o seu modesto lar com uma criança, um filho para completar a felicidade das suas vidas.

Um dia, a mulher foi à beira do rio lavar roupas e avistou nas margens das águas uma concha dourada, aproximou-se e, espantada, viu um belo menino recém-nascido dormindo tranquilo dentro daquele estranho objeto. Sem saber o que fazer, a mulher gritou pelo marido, pedindo-lhe que viesse ver o milagre que estava acontecendo... Os dois pegaram a criancinha nos braços, levaram para a casa onde moravam, alimentaram-no, vestiram-no e começaram a dedicar àquele filho inesperado um amor maior que o mundo. Deram-lhe o nome de Jorge.

Os anos passaram, Jorge tornou-se um belo rapaz, muito amoroso com os pais e querido por todos que habitavam o vilarejo onde se criara. 

Certa manhã, banhando-se nas águas azuis e transparentes do rio, Jorge avistou um belíssima moça, cantando e sorrindo para ele. A paixão logo tomou conta do coração puro de Jorge. Todas as manhãs os dois se encontravam nas águas do rio, até que ela o convidou a ir com ela conhecer o lugar onde ela morava, co fundo do rio. Pensando que seria um passeio rápido, Jorge acompanhou a sua amada, sem se despedir dos pais.

Nadaram até chegarem a um lugar belíssimo, um reino de cristal, no qual a bela moça era a princesa, filha única do rei viúvo que desejava vê-la casada, dando um herdeiro para o trono. Jorge ficou fascinado com tudo que via a sua volta, casou-se com a jovem, tiveram um filho e viviam numa felicidade perfeita. Todavia, num belo dia, Jorge sentiu uma imensa saudade dos seus pais, desejou visitá-los e falou nisto à sua mulher.

-Você quer voltar? Vai deixar-me aqui com nosso filho?

-Querida, quero somente abraçá-los. Voltarei logo em seguida.

Ele teve permissão do rei para sair do reino e foi à superfície. Mal sabia a tristeza que o aguardava ao chegar à aldeia. Tudo estava mudado, a casa dos pais já não existia, ninguém sabia nada sobre o paradeiro dos dois, sequer os conheciam,. Procurou os amigos e parentes sem encontrá-los. Desesperado, Jorge procurou o padre capelão da igreja. Já não era o mesmo do seus tempos de juventude. Este, vendo os trajes à moda muito antiga de Jorge, perguntou-lhe:

-Meu filho, em que ano você partiu?

Ao ouvir a resposta, espantadíssimo o padre lhes disse: - Filho, passaram-se mais de 100 anos depois que você deixou a aldeia e seus pais. Morreram todos.

Muito triste, Jorge caminhou até o rio, começou a entrar nas águas límpidas, pensando em voltar para junto da mulher e do filhinho. Todavia, quando olhou para o espelho da água viu sua imagem refletida. Não se reconheceu. Havia envelhecido! Longe do espaço mágico do reino de cristal tornara-se um ancião centenário. Já não podia retornar. Os golfinhos que nadavam no rio, pegaram-no delicadamente e levaram-no para junto da sua família. Alí, ele despertou e descobriu que voltara a ser jovem, voltara a ter a sua família. 

(Autor desconhecido)

13 de dezembro de 2013

Pinóquio, de Hans Christian Andersen


Numa aldeia italiana vivia Gepeto, o melhor relojoeiro do mundo. Um dia construiu um boneco quase perfeito...!
-Serás o filho que não tive, e vou chamar-te Pinóquio. Nessa noite a Fada Madrinha visitou a oficina de Gepeto. Tocando Pinóquio com a varinha mágica disse:
- Vou-te dar vida, boneco. Mas deves ser sempre bom e verdadeiro!
No dia seguinte Gepeto apercebeu-se que os seus desejos se tinham tornado realidade. Mandou então Pinóquio à escola, acompanhado pelo grilo cantante Pepe. No caminho encontraram a D. Raposa e a D. Gata.
- Porque vais para a Escola havendo por aí tantos lugares bem mais alegres? - perguntou a raposa.
- Não lhe dês ouvidos! - avisou-o Pepe. Mas Pinóquio, para quem tudo era novidade, seguiu mesmo as tratantes e acabou à frente de Strombóli, o dono de um teatrinho de marionetas.
- Comigo serás o artista mais famoso do mundo! - segredou-lhe o astucioso Strombóli.
O espectáculo começou. Pinóquio foi a estrela, principalmente pelas suas faltas, que causaram muita risota. Os outros bonecos eram hábeis, enquanto o novo só fazia asneiras... Por isso triunfou! No final do espectáculo Pinóquio quis ir-se embora, mas Strombóli tinha outros planos.
- Ficas preso nesta jaula, boneco falante. Vales mais que um diamante! Por sorte o grilo Pepe correu a avisar a Fada Madrinha, que enviou uma borboleta mágica para salvar Pinóquio. Quando se recompôs do susto, a borboleta perguntou-lhe aonde vivia.
- Não tenho casa. - respondeu o boneco.
A borboleta voltou a fazer-lhe a mesma pergunta, e ele a dar a mesma resposta. Mas, de cada vez que mentia, o nariz crescia-lhe mais um pouco, pelo que não conseguiu enganar a Borboleta Mágica.
- Não quero este nariz! - soluçou Pinóquio.
- Terás que te portar bem e não mentir! Voltas para casa e para a Escola. - disse-lhe a Borboleta Mágica.
Depois de regressar a casa, aonde foi recebido com muita alegria por Gepeto, passou a portar-se bem. Tempos depois, de novo quando ia para a Escola, voltou a encontrar a Raposa, que o desafiou para a acompanhar à Ilha dos Jogos. Assim que entrou começaram a crescer-lhe as orelhas e a transformar-se em burro. Aflito, valeu-lhe o grilo Pepe, que lhe disse:
- Anda, Pinóquio. Conheço uma porta secreta...! Não te queres transformar em burro, pois não? Levar-te-iam para um curral!
- Sim, vou contigo, meu amigo.
Ao chegarem a casa encontraram-na vazia. Por uns marinheiros souberam que Gepeto se tinha feito ao mar num bote. Como o grilo Pepe era muito esperto, ensinou Pinóquio a construir uma jangada. Dois dias mais tarde, quando navegavam já longe de terra, avistaram uma baleia.
- Essa baleia vem direita a nós! gritou Pepe. - Saltemos para a água!
Mas não puderam salvar-se ... a baleia engoliu-os. Em breve descobriram que no interior da barriga estava Gepeto, que tinha naufragado no decurso de uma tempestade. Depois de se terem abraçado, resolveram acender uma fogueira. A baleia espirrou e lançou-os fora.
- Perdoa-me papá. - suplicou Pinóquio muito arrependido. E a partir dali mostrou-se tão dedicado e bondoso que a Fada Madrinha, no dia do seu primeiro aniversário, o transformou num menino de carne e osso, num menino de verdade.
- Agora tenho um filho verdadeiro! - exclamou contentíssimo Gepeto.




Sindbad, o marujo


Sindbad estava sentado, descansando na sua nova casa em Bagdad, que havia construido recentemente, quando ouviu um pobre carregador de rua dizer:
- Os homens não recebem a recompensa conforme merecem. Tenho trabalhado mais do que Sindbad e, no entanto, ele vive no luxo e eu na miséria.
Comovido com a queixa do carregador de rua, Sindbad convidou-o para entrar e ouvir a história de suas aventuras.
- Talvez quando souberes o que passei para adquirir minha riqueza, disse-lhe Sindbad, fique mais contente com a sua sorte. Repare no meu cabelo branco e minha cara já gasta; até pareço um velho. Eu era jovem e forte quando embarquei para tentar fazer minha fortuna em países estranhos. Saiba que, pouco depois de partirmos, o nosso navio foi apanhado por uma calmaria numa pequena ilha. Quando desembarcamos para examinar de perto, descobrimos que aquilo não era terra e sim o dorso de uma grande baleia. Mal pusemos os pés para descer e ela começou a sacudir-se e logo mergulhou para o fundo do mar. Ficamos todos assustados, nos debatendo e procurando algo para nos salvar do afogamento. Agarrei-me a um grande pedaço de madeira e a corrente marítima acabou me conduzindo à praia de uma ilha deserta.
- Já na ilha, imaginei que estaria salvo, mas ao caminhar algumas léguas fui dar num grupo de arvores frutíferas, entre as quais estava escondida uma grade bola branca de uns cincoenta pés de tamanho. Eu já estava muito cansado, por isso, depois de comer alguns frutos, deitei-me para dormir à sombra da bola branca. Já estava cochilando quando, ao olhar para o alto, vi que o céu estava escuro pelas asas de uma ave gigante.
- Céus! exclamei. Esta grande bola branca é o ovo daquela ave monstruosa, que os marinheiros chamam de Roc.

LEIA MAIS, clicando na frase abaixo

3 de dezembro de 2013

A ESTRELINHA


Haviam milhões de estrelas no céu.
Estrelas de todas as cores: brancas, prateadas, verdes, douradas, vermelhas e azuis.
Um dia, elas procuraram Deus e lhe disseram:
- Senhor Deus, gostaríamos de viver na Terra entre os homens.
- Assim será feito, respondeu o Senhor. Conservarei todas vocês pequeninas como são vistas e podem descer para a Terra.
Conta-se que, naquela noite, houve uma linda chuva de estrelas. Algumas se aninharam nas torres das igrejas, outras foram brincar de correr com os vaga-lumes nos campos; outras misturaram-se aos brinquedos das crianças e a Terra ficou maravilhosamente iluminada.
Porém, passando o tempo, as estrelas resolveram abandonar os homens e voltar para o céu, deixando a Terra escura e triste.
- Por que voltaram? Perguntou Deus, a medida que elas chegavam ao céu.
- Senhor, não nos foi possível permanecer na Terra. Lá existe muita miséria e violência, muita maldade, muita injustiça…
E o Senhor lhes disse:
- Claro! O lugar de vocês é aqui no céu. A Terra é o lugar do transitório, daquilo que passa, daquele que cai, daquele que erra, daquele que morre, nada é perfeito. O céu é lugar da perfeição, do imutável, do eterno, onde nada perece.
Depois que chegaram todas as estrelas e conferindo o seu número, Deus falou de novo:
- Mas está faltando uma estrela. Perdeu-se no caminho?
Um anjo que estava perto retrucou:
- Não Senhor, uma estrela resolveu ficar entre os homens. Ela descobriu que seu lugar é exatamente onde existe a imperfeição, onde há limite, onde as coisas não vão bem, onde há luta e dor.
- Mas que estrela é essa? – voltou Deus a perguntar.
- É a Esperança, Senhor. A estrela verde. A única estrela dessa cor.
E quando olharam para a Terra, a estrela não estava só. A Terra estava novamente iluminada porque havia uma estrela verde no coração de cada pessoa.
Porque o único sentimento que o homem tem e Deus não tem é a Esperança.
Deus já conhece o futuro, e a Esperança é própria da pessoa humana, própria daquele que erra, daquele que não é perfeito, daquele que não sabe como será o futuro.
Tenha a estrelinha verde em seu coração, a esperança, e não deixe que ela fuja ou se apague, ela iluminará seu caminho!
(Autor desconhecido)

17 de setembro de 2013

O PRIMEIRO IMPULSO - Autor persa anônimo


Tooriri era um cidadão rico de Bagdá, universalmente famoso por suas virtudes. Não se limitava a assistir aos pobres a ponto de, em vez de levar uma existência das mais luxuosas, viver apenas confortavelmente; escutava com a mais delicada paciência as queixas de todos os sofredores que o procuravam, consolava‑os com palavras carinhosas e ajudava‑os de todas as maneiras possíveis.
Suportava com resignação as mil e uma pequenas misérias que constituem a maior parte da vida humana. Tolerante em alto grau, não se aborrecia se os outros não lhe partilhavam as opiniões — virtude difícil e rara, pois o desejo secreto de cada homem é que o resto da humanidade lhe seja inferior e, ao mesmo tempo, semelhante.
Casado com uma megera, mantinha‑se‑lhe fiel, perdoava‑lhe o mau gênio, e jamais a fazia sentir que não era nem moça nem bonita. Prosador e poeta, regozijava‑se com o êxito dos rivais e manifestava‑lhes benevolência e amizade em expressões corteses e sinceras.
Numa palavra, sua vida era toda caridade, gentileza, lealdade e altruísmo, e consideravam‑no, ao mesmo tempo, um santo e um perfeito cavalheiro.
Ao seu semblante, porém, faltava a serenidade que por via de regra caracteriza as feições de um santo. Parecia o de uma pessoa agitada por paixões violentas ou roída de secreta angústia. Não raro o viam estacar e baixar os olhos para recobrar o domínio de si mesmo e impedir que lhe adivinhassem os pensamentos. Mas ninguém prestava a isso a menor atenção.
Não longe de Bagdá vivia um eremita por nome Maitreya, autor de numerosos milagres, cuja morada era objeto da veneração de muitos peregrinos. Tendo‑se posto acima das contingências do comum da humanidade, Maitreya conservava‑se em tamanha imobilidade que as andorinhas vinham a construíam ninhos em seus ombros. A barba, espessa como a cauda das vacas sagradas, chegava‑lhe à cintura, e o seu corpo semelhava um tronco de árvore. Vivia assim desde uns noventa anos, pois era este o seu ideal.
Certo dia um peregrino disse na sua presença:
— Tooriri, de tão bom, parece uma encarnação de Ormuzd. Sem dúvida todo o sofrimento desapareceria da face da Terra se um homem destes pudesse fazer tudo quanto quisesse.
Ainda mais rígida se fez a imobilidade de Maitreya. Evidentemente o santo homem entrara em comunicação direta com o próprio Ormuzd. Depois de pensar uns instantes, respondeu ao peregrino:
— Não me é possível alcançar que Ormuzd conceda a Tooriri o poder de realizar todos os seus desejos, pois assim ele se tornaria um deus. No entanto, Ormuzd, em sua bondade, permite que, de amanhã por diante, o primeiro impulso deste santo homem, em todas as circunstâncias de sua vida, se transforme em realidade.

LEIA MAIS. clicando na frase abaixo

21 de agosto de 2013

Parábola do Gato e do Rato

Parábola do gato e o rato


Certa feita um gato montês e um rato habitavam a mesma árvore na selva; o rato morava num buraco da raiz e o gato nos galhos, onde se alimentava de ovos de pássaros e de filhotes inexperientes. O gato também gostava de comer ratos, mas este de nosso conto conseguia manter-se fora do alcance de suas garras.
Um dia veio um caçador e armou habilmente uma rede sob a árvore e, naquela noite, o gato ficou preso em suas malhas. O roedor, contente, saiu de seu esconderijo e experimentou um prazer enorme ao andar em volta da armadilha, mordiscando a isca e tirando o máximo proveito daquela situação.
Logo se deu conta de que dois outros inimigos haviam chegado: um pouco mais acima, entre a escura folhagem da árvore, pousou uma coruja de olhos resplandecentes prestes a lançar-se sobre ele, enquanto que por terra se aproximava, sorrateiramente, um mangusto. O rato, sem saber o que fazer, maquinou com rapidez um surpreendente estratagema. Dirigindo-se ao gato disse-lhe que o libertaria, roendo as malhas, se antes lhe permitisse entrar na rede e abrigar-se em seu colo. Mal o outro concordou, o pequeno animal, aliviado, foi para dentro da rede.
Todavia, se o gato esperava ser salvo de imediato sofreu uma grande decepção, pois o rato aninhou-se confortavelmente em seu corpo, escondendo-se de modo a fugir dos olhares atentos de seus dois outros inimigos; e então, uma vez seguro em seu refúgio, decidiu tirar uma soneca. O gato protestou mas o rato disse que não havia pressa. Ele sabia que poderia safar-se a qualquer instante e que a seu contrariado hospedeiro só restava ser paciente, na esperança de obter a liberdade.
E então, o roedor falou francamente ao seu inimigo natural que iria esperar pelo caçador. Desse modo, o gato também estando ameaçado, não aproveitaria sua independência para apanhar e devorar seu libertador. O felino nada pôde fazer; seu pequeno hóspede cochilou bem no meio de suas garras. O rato esperou tranqüilamente a chegada do caçador e, quando viu o homem aproximar-se para examinar as armadilhas, cumpriu sem risco sua promessa roendo as malhas com rapidez e pulando em sua toca, ao passo que o gato, num salto desesperado, escapuliu e alcançou um galho, livrando-se da morte certa.
Depois que o frustrado caçador afastou-se carregando sua rede inutilizada, o gato desceu da árvore e, aproximando-se à morada do rato, chamou-o docemente, convidando-o para sair e reunir-se ao seu velho companheiro. Disse-lhe que a situação em que se viram envolvidos na noite anterior já havia passado e a ajuda que cada um prestara tão lealmente ao outro, na luta em comum pela sobrevivência, havia consolidado uma união duradoura que apagava todas as diferenças anteriores. Dali em diante, os dois seriam amigos para sempre, baseando-se numa confiança mútua.
Porém, o rato mostrou-se cético e inarredável diante da retórica do gato; recusou-se terminantemente a sair do abrigo seguro em que estava. Uma vez terminada a situação paradoxal que os havia colocado juntos numa estranha e temporária cooperação, não havia palavra que pudesse persuadir o arguto animalzinho a se achegar a seu inimigo natural. Para justificar sua recusa aos galantes mas insidiosos sentimentos do outro, o rato pronunciou a fórmula destinada a servir de moral ao conto. Disse, franca e diretamente:
"No campo da batalha política não existem coisas como uma amizade perdurável".

Autoria desconhecida


22 de maio de 2013

O homenzinho da praia.

Josefina gostava muito de aventuras. Costumava sempre subir nas árvores e, quando tinha três anos, fugiu de casa duas vezes correndo pela rua abaixo para ver até onde ia.
Um dia seus pais levaram-na para uma praia. Lá chegando, Josefina pôs-se a andar ao longo da praia, acompanhado o mar. Depois de algum tempo caminhando ela notou que nunca poderia chegar até o fim da praia, pois no caminho havia um amontoado de rochas que entravam mar a dentro, impedindo-lhe a passagem e eram pedras tão altas que não poderia atravessá-lo.
Numa certa manhã, Josefina levantou-se bem cedo, sentou-se na cama e ficou pensando como seria interessante procurar um caminho para atravessar aquela rocha da praia. Depois de alguns momentos levantou-se, vestiu-se e saiu correndo pela estrada que conduzia ao mar.
Correu um bom pedaço e então, já sentido-se exausta, deitou-se no chão para descansar. Estava quase dormindo quando, de repente, viu um homenzinho vestido de preto, como um carvoeiro, correndo pela grama até a entrada de uma pequena toca, pela qual desapareceu.
Josefina ficou espantada. Imediatamente levantou-se, mas sua curiosidade aumentou quando viu que o homenzinho tinha deixado cair aulguns pequenos biscoitos que estava comendo. Como estava com muita fome resolveu comê-los. Imediatamente começou a diminuir de tamanho até ficar menor que o homenzinho de preto. Dessa forma, pensou ela, posso entrar pela toca e chegar ao outro lado. Como gostava muito de aventuras, lá se foi Josefina toca a dentro. A toca terminava em uma passagem muito escura e, ao atravessá-la, Josefina sentiu que seu coraçãozinho batia fortemente e feliz, pois imaginava que aquele buraco a conduziria à continuação da praia, que ela queria conhecer.
Ao chegar do outro lado da toca, qual não foi seu estpanto, pois no lugar de conchinas do mar havia milhares de diamantes, pérolas, rubis, esmeraldas e todos os tipos de pedras preciosas. Brilhavam tanto que ela teve de fechar os olhos por alguns instantes.
Tudo aquilo era novidade e principalmente muito bonito, mas Josefina estava cansada, com sono e tanta fome que nem se importou muito com aquelas maravilhosas joias. Catou algumas, pôs no bolso e então decidiu voltar para casa, mas quando procurou a entrada da toca, por onde tinha vindo, não mais a encontrou. Então começou a andar de um lado para o outro á procura da tal entrada, mas nada conseguia. Josefina estava cada vez mais contrariada, pois sentia-se cansada e com muita fome. De repente percebeu estar bem próxima ao homenzinho de preto que estava enchendo um saco de pedras preciosas. Josefina deu um grito de alegria e educadamente pediu:
-Pode me fazer o favor de indicar a saída?
O homenzinho deu um salto e virou-se para ela muito zangado.

LEIA MAIS, clicando na frase abaixo

17 de abril de 2013

Ana Maria Machado. Era uma menina do seu tamanho



Era uma vez uma menina. Não era uma menina deste tamanhinho. Mas também não era uma menina deste tamanhão. Era uma menina assim mais ou menos do seu tamanho. E muitas vezes ela tinha vontade de saber que tamanho era esse, afinal de contas. Porque tinha dias que a mãe dela dizia assim:
- Helena, você já está muito grande para fazer uma coisa dessas. Onde já se viu uma menina do seu tamanho chegar em casa assim tão suja de ficar brincando na lama? Venha logo se lavar.
Que já era bem grande.
Mas às vezes, também, o pai dizia assim:
- Helena, você é muito pequenina para fazer uma coisa dessas. Onde já se viu uma menina do seu tamanho ficar brincando num galho de árvore tão alto assim? Desça já daí. Se não, você pode cair
Ai Helena achava que era mesmo uma bebezinha que não podia fazer nada sozinha.
E era sempre assim. Na hora de ir ajudar no trabalho da roça, ela era bem grande. Na hora de ir tomar banho no rio e nadar no lugar mais fundo, ela ainda era muito pequena. Na hora que os grandes ficavam de noite conversando no terreiro até tarde, ela era pequena e tinha que ir dormir. Na hora em que espetava o pé com um espinho e queria ficar chorando no colo de alguém, só com dengo e carinho, sempre dizia que já estava muito grande para ficar fazendo manha. Se ela tivesse um espelho mágico, que nem rainha madrasta da Branca de Neve, bem que podia perguntar:
- Espelho meu, espelho meu, que tamanho tenho eu?

Bem do seu tamanho Ana Maria Machado Editora Brasil – América Rio de Janeiro – 1982


16 de abril de 2013

O Leão e o Rato

 Certo dia, estava um Leão a dormir a sesta quando um ratinho começou a correr por cima dele. O Leão acordou, pôs-lhe a pata em cima, abriu a bocarra e preparou-se para o engolir.

- Perdoa-me! - gritou o ratinho - Perdoa-me desta vez e eu nunca o esquecerei. Quem sabe se um dia não precisarás de mim?

O Leão ficou tão divertido com esta ideia que levantou a pata e o deixou partir.

Dias depois o Leão caiu numa armadilha. Como os caçadores o queriam oferecer vivo ao Rei, amarraram-no a uma árvore e partiram à procura de um meio para o transportarem.

Nisto, apareceu o ratinho. Vendo a triste situação em que o Leão se encontrava, roeu as cordas que o prendiam.

E foi assim que um ratinho pequenino salvou o Rei dos Animais.


15 de março de 2013

A Floresta Enfeitiçada

 

Era uma vez um Gnomo que vivia nas profundezas de uma Floresta encantada. A sua única companhia, para além das árvores e das flores que cobriam a sua casinha, era um Gato preto.
Um dia, estava o Gnomo a cuidar das suas plantas, quando apareceu o Gato com um ar muito preocupado:
- Gnomo, Gnomo, nem imaginas o que aconteceu!
- Porque estás tão inquieto? – perguntou o Gnomo.
- A Floresta está a desaparecer! – respondeu – Para lá daquele vale restam apenas escassas ervas. Até o rio deixou de correr!
- Mas porque será?
- Dizem que, há muitos anos atrás, um Feiticeiro perdeu nesta Floresta a sua amada, uma princesa de beleza extrema. O desgosto foi tão grande que, movido pela raiva, lançou um feitiço. Se dentro de sete dias não forem encontradas três pedras mágicas, esta Floresta deixará de existir, e com ela todos os seres que nela habitam.
No dia seguinte, o Gnomo e o Gato foram, com a ajuda de uma nuvem mágica, à procura das pedras mágicas.
Os dias passavam e, já cansados de tanto procurar, resolveram descansar à sombra de uma árvore. Pouco depois estavam a dormir. Na manhã seguinte, mal o Gnomo acordou, encontrou a seus pés uma carta e uma espada. A carta dizia:
“Meu caro amigo, sou uma pessoa que te quer ajudar. Para encontrares as três pedras mágicas, basta salvares a Princesa do reino, que se encontra presa numa masmorra. Para isso terás que atravessar toda a Floresta e lá encontrarás o castelo de um monstro. Se à meia-noite do dia de hoje a Princesa não estiver neste sítio, tudo desaparecerá”.
Ao atravessarem a floresta, o Gnomo e o Gato deram com o castelo do monstro. Com a ajuda da nuvem mágica e da espada, o Gnomo matou o monstro e salvou a Princesa.
Já na Floresta, o Gnomo exclamou:
- São tantas as árvores! Como vamos descobrir aquela onde dormimos?
- Marquei uma cruz nessa árvore; basta agora descobri-la – respondeu o Gato.
Estavam as badaladas da meia-noite a tocar, quando o Gato e o Gnomo entregaram a Princesa à pessoa que escrevera a carta.
- É um feiticeiro! exclamou o Gnomo.
- Pois sim! Obrigado por me trazerem a minha amada de volta.Nenhum dos meus feitiços seria tão ágil como a vossa pequenez. A vocês devo a minha vida. E a minha felicidade. E, com um pequeno toque, apareceram as pedras mágicas na mão do Gnomo.
Foi assim que, salva a Floresta e todos os seus habitantes, o Gnomo e o Gato voltaram para a sua casinha, nas profundezas da Floresta, e viveram felizes para sempre.

 

28 de janeiro de 2013

A Pastora e o Limpa Chaminés- de H.C.Andersen


Alguma vez viram um armário muito velho, enegrecido pela idade, todo esculpido com caules e folhas de trepadeiras?
Havia numa sala de estar um armário deste género que tinha pertencido à trisavó da família. Estava coberto, de cima a baixo, com rosas e túlipas esculpidas na madeira, rodeadas por grinaldas arredondadas; e, por entre tudo isso, apareciam umas cabecinhas de veados com as suas hastes.
Mas, no meio, havia uma figura de um homem — de um tipo bem estranho. Era bastante cómico, porque tinha pernas de bode, pequenos cornos na testa, uma barba comprida e um esgar peculiar, que mal podia chamar-se sorriso. As crianças da casa chamavam-lhe Brigadeiro-General-de-Brigada-Capitão-Sargento-Cabo-Pernas-de-Bode. O nome ficava-lhe bem, achavam elas, por ser difícil de dizer. Além disso, quem mais, vivo ou esculpido, teria alguma vez merecido tal título?
Seja como for, lá estava ele, com os olhos sempre voltados para a mesa por baixo do espelho, porque em cima da mesa estava uma linda pastorinha de loiça. Tinha uns sapatos dourados e um vestido enfeitado com uma rosa de loiça; tinha ainda um chapéu dourado e segurava um cajado de pastora. Oh, era realmente linda!
Mesmo a seu lado, estava um pequeno limpa-chaminés, também de loiça. Era todo preto, excepto a cara, que era cor-de-rosa e branca como a de uma rapariga; na verdade, estava tão limpo e bem arranjado como outra pessoa qualquer, porque era apenas um limpa-chaminés a fingir. O artista também podia ter feito dele um príncipe. E lá estava ele, com o seu escadote e o seu belo rosto, que não tinha uma única partícula de fuligem. E como o limpa-chaminés e a pastora tinham estado sempre junto um do outro, em cima da mesa, tinham ficado noivos, o que era a coisa mais natural do mundo. Estavam realmente muito bem um para o outro. Ambos eram jovens, ambos eram feitos do mesmo material, e cada um era tão frágil como o outro.
Não longe dali havia uma figura muito diferente, cerca de três vezes maior do que eles. Era um velho chinês, um mandarim, que abanava a cabeça. Também era de loiça, e dizia sempre que era avô da pastora. Não podia prová-lo, mas insistia em que era o seu protector, de maneira que o Brigadeiro-General-de-Brigada-Capitão-Sargento-Cabo-Pernas-de-Bode lhe pediu a mão dela em casamento, e ele consentiu, acenando.
— Aí está um belo marido para ti — disse ele à pastora. — É de mogno, tenho quase a certeza, e vais ser a Senhora Brigadeira-Generala-de-Brigada-Capitoa-Sargenta-Caba-Pernas-de-Bode. Ele é dono de um armário cheio de pratas e de outras coisas que lá tem escondidas.
— Não quero viver naquele armário escuro — disse a pastorinha. — Ouvi dizer que ele já lá tem onze mulheres de loiça.
— E tu serás a décima segunda! — retorquiu o mandarim — Esta noite, assim que o armário começar a estalar, vocês vão casar, tão certo como eu ser chinês!
E, com isto, acenou com a cabeça e adormeceu.
Mas a pastorinha começou a chorar e olhou para o seu bem-amado limpa-chaminés.
— Acho que tenho de te pedir que partas à aventura comigo — disse ela —, porque não podemos ficar aqui.
— Faço o que tu quiseres — respondeu o pequeno limpa-chaminés. — Vamos já; tenho a certeza de ser capaz de ganhar o suficiente para te manter com a minha profissão.
— Ai, se ao menos pudéssemos descer da mesa!... — exclamou ela. — Só serei feliz quando partir à aventura!
Então ele confortou-a e mostrou-lhe como devia colocar os pezinhos nos entalhes da perna da mesa. Levou o escadote para a ajudar e, por fim, encontraram-se no chão. Mas, quando olharam para o velho armário escuro, que agitação! Todos os veados esculpidos deitavam as cabeças ainda mais de fora, espetando os galhos e voltando os pescoços de um lado para o outro. E o Brigadeiro-General-de-Brigada-Capitão-Sargento-Cabo-Pernas-de-Bode estava aos pulos e a gritar, todo zangado, para o chinês:
— Estão a fugir! Estão a fugir!
Aquilo assustou os namorados, que se esconderam rapidamente na gaveta do banco da janela. Encontraram três ou quatro baralhos de cartas — nenhum deles completo — e um pequeno teatro de brincar. Estava em cena uma peça, e todas as rainhas das cartas — ouro, copas, paus e espadas — ocupavam a primeira fila, a abanar-se com as suas túlipas. Por detrás delas estavam todos os valetes com as suas cabeças, uma em cima e outra em baixo (todas as cartas de jogar são assim). A peça que estavam a ver era sobre um par de namorados a quem não deixavam casar. E a pastora começou outra vez a chorar, porque era tal e qual a história dela.
— Não suporto isto — dizia ela. — Tenho de sair desta gaveta.
Mas, quando chegaram ao chão e olharam para cima da mesa, o velho chinês tinha acordado e estava a abanar o corpo para trás e para a frente; tinha de andar assim, porque, à excepção da cabeça, era todo feito de uma só peça.
— Vem aí o velho chinês! — gritou a pastorinha.
E estava tão aterrorizada que caiu nos seus joelhos de loiça.
— Tenho uma ideia — disse o limpa-chaminés. — Vamos meter-nos ali dentro da grande jarra do canto; podemos esconder-nos entre as rosas e a alfazema e atirar-lhe sal aos olhos se ele se aproximar.
— Isso não ajuda nada — respondeu ela. — Além disso, sei que o velho chinês e a jarra já estiveram noivos; e fica sempre algum sentimento quando as pessoas foram íntimas. Não, a única coisa a fazer é partir à aventura.
— Tens realmente coragem para isso? — perguntou o limpa-chaminés. — Fazes ideia de como é o Mundo? E já pensaste que não podemos voltar para aqui?
— Sim, já pensei nisso — respondeu ela.
O limpa-chaminés deitou-lhe um olhar sério e penetrante e depois disse:
— O único caminho que conheço é pela chaminé. Tens a certeza que possuis a coragem suficiente para ires atrás de mim pelo fogão e pelo túnel escuro? É por aí que se vai para a chaminé, e depois já sei o que fazer. Trepamos tão alto que ninguém nos apanha; e, lá mesmo no cimo, há uma abertura por onde podemos sair para a nossa aventura.
E conduziu-a pela porta do fogão.
— Está muito escuro — exclamou ela.
Mas, apesar disso, foi com ele, através dos tijolos refractários e do cano da chaminé, onde estava escuro como a noite.
— Já chegámos à chaminé — exclamou ele. — Olha! Que linda estrela ali por cima de nós!
Realmente havia uma verdadeira estrela no céu por cima deles, a iluminá-los com o seu brilho, como se quisesse indicar-lhes o caminho. Lá continuaram a trepar e a rastejar, para cima, cada vez mais para cima; foi uma viagem horrível. Mas o pequeno limpa-chaminés ajudava-a sempre, mostrando-lhe os melhores sítios para ela colocar os seus pezinhos de loiça, até que por fim chegaram ao cimo da chaminé, onde se sentaram, porque estavam cansados, o que não admira.
Lá no alto estava o céu cheio de estrelas; em baixo, ficava a cidade com todos os seus telhados. Eles podiam ver até bem longe à sua volta, por esse mundo fora. A pobre pastora nunca tinha imaginado nada como aquilo; deitou a sua cabecinha no ombro do limpa-chaminés e chorou tão amargamente que o ouro da faixa da cintura desbotou.
— Isto é de mais — chorava ela. — Não aguento. O Mundo é demasiado grande. Oh, quem me dera estar outra vez na mesa debaixo do espelho! Só serei feliz outra vez quando voltar para lá. Vim contigo, mas, se realmente gostas de mim, leva-me para casa.
O limpa-chaminés falou calmamente com ela; recordou-lhe o chinês e o Brigadeiro-General-de-Brigada-Capitão-Sargento-Cabo-Pernas-de-Bode, mas ela continuava a chorar, desesperada, e beijava-o e agarrava-se a ele, até que este acabou por ceder, apesar de ser uma patetice.
Então, tornaram a rastejar pela chaminé, desta vez para baixo — uma tarefa dura e perigosa; esgueiraram-se pelo cano (uma das piores partes da viagem) e, por fim, chegaram à caverna escura do fogão. Ficaram encostados à porta durante um bocadinho, para ouvirem o que se passava na sala. Tudo parecia bastante calmo, de maneira que espreitaram — mas, oh!, mesmo no meio do chão estava o chinês! Ao tentar correr atrás deles, tinha caído da mesa, e agora estava feito em três pedaços — a parte de trás, a parte da frente e a cabeça, que tinha rebolado para um canto. O Brigadeiro-General-de-Brigada-Capitão-Sargento-Cabo-Pernas-de-Bode estava no seu lugar de sempre, absorto em pensamentos.
— Que horror! — exclamou a pastorinha. — O meu pobre avô está todo partido e a culpa é nossa. Nunca hei-de esquecer isto!
E torcia as mãozinhas.
— Pode muito bem ser consertado — afirmou o limpa-chaminés. — É fácil. Vá, não fiques tão preocupada. Depois de ser colado e de lhe porem um gato no pescoço, fica como novo, e ainda vai dizer-te muitas coisas aborrecidas.
— Achas que sim? — perguntou ela.
E treparam para a mesa onde sempre tinham estado.
— Bem, fartámo-nos de andar — suspirou o limpa-chaminés —, e cá estamos de novo no mesmo sítio. Podíamos ter poupado a viagem.
— Ai, quem me dera que o meu avô já estivesse consertado! — disse a pastora. — Achas que vai ser muito caro?
O chinês foi consertado. A família mandou colar os pedaços e pôr um gato no pescoço; ficou como novo, mas já não abanava a cabeça.
— Estás muito importante desde que te partiste! — disse-lhe o Brigadeiro-General-de-BrigadaCapitão-Sargento-Cabo-Pernas-de-Bode. — Mas por que é que estás tão orgulhoso? Responde-me! Posso ou não ficar com a pastora?
O limpa-chaminés e a pastora olharam ansiosamente para o velho chinês, com medo que ele acenasse com a cabeça. Mas ele não conseguia e também não queria admitir que lhe tinham posto um gato no pescoço. E assim os namoradinhos de loiça ficaram juntos e continuaram a amar-se, na maior felicidade, até se partirem.

Hans Christian Andersen

                                       

24 de janeiro de 2013

Jacinto e Rosinha, conto de Novalis



Em épocas remotas vivia bem longe próximo ao oriente um rapaz na flor da juventude. Ele era muito correto, mas também sobremaneira estranho. Mortificava-se sem parar por coisas absolutamente insignificantes, andava sempre ensimesmado, ficava sentado à parte enquanto os demais se entretinham com folguedos e se divertiam, e entregava-se a pensamentos bizarros. Grutas e florestas eram os seus lugares prediletos, e lá ficava falando com animais e pássaros, com árvores e rochedos, naturalmente nenhuma palavra ajuizada, apenas um monte de tolices de morrer de rir. Ele continuava sempre circunspeto e rabugento embora o esquilo, o macaco, o papagaio e o pisco (2) se esforçassem ao máximo para distraí-lo e pô-lo no bom caminho . O ganso narrava contos de fadas, o regato enquanto isso tamborilava uma balada, uma pedra grande e compacta dava cambalhotas ridículas, a rosa vinha de mansinho por trás dele e carinhosamente enrodilhava-se em seus cachos, e a hera acariciava-lhe a testa carregada de preocupações. Contudo , a melancolia e a sisudez eram teimosas. Os pais dele estavam bastante aflitos e não sabiam o que fazer.

Ele era saudável e se alimentava, eles nunca o tinham ofendido e, além disso, até há poucos anos, ele fora o menino mais alegre e feliz, à dianteira em todos os folguedos e benquisto de todas as meninas. Era realmente muito belo, parecia obra de um artista, dançava com elegância. Dentre as moças, havia uma donzela delicada e muito formosa, parecia feita de cera, tinha cabelos como seda dourada, lábios rubros como cerejas, corpo de boneca, olhos negros como corvos. Quem a via ficava a ponto de desfalecer, tão encantadora era a menina. Naquela época, Rosa - esse era o nome dela - queria bem de todo o coração ao belo Jacinto - esse era o nome dele - e ele morria de amor por ela. As outras crianças não sabiam disso. Uma violeta foi a primeira a dar-lhes a notícia, depois de os gatinhos de estimação terem percebido tudo, já que as casas dos pais de ambos ficavam perto uma da outra. Quando Jacinto ficava à noite em frente de sua janela e Rosa em frente da dela, os bichanos que por lá passavam à caça de camundongos avistavam os dois, riam e por vezes davam gargalhadas tão altas que eles ouviam e ficavam zangados. A violeta tinha confidenciado tudo ao morango, este contou à sua amiga, a groselha espinhosa, esta não pôde conter seus remoques quando Jacinto veio caminhando por ali. E assim a notícia logo correu por todo jardim e por toda floresta, e quando Jacinto saía a passeio ouvia de todos os lados: Rosinha é meu amorzinho!

LEIA MAIS, clicando na frase abaixo