Uma grande festa no céu foi anunciada aos animais. Para desencanto de muitos, só foram convidadas as aves, por possuírem asas e lá poder chegar. Ao saber da festa, o Jabuti não se conformava em não ter sido convidado. Mesmo sabendo da impossibilidade de ir ao céu, espalhou por toda a mata que também tinha sido convidado, fazendo com que os outros animais dele rissem e zombassem.
Jaboti passava os dias à beira da lagoa, a remoer a zombaria, mantendo sempre a certeza de que iria à festa no céu, fez peditório de ajuda a São Francisco, protetor dos animais, fez promessa à Santa Rita, a das causas perdidas, até aos anjinhos pediu que lhe emprestassem as asas. Nada acontecia. Até que um dia, o Urubu e o Corvo foram lavar os pés na lagoa. Jaboti sabia que eles eram da orquestra que tocava nas festas dos bichos, e, como voavam, com certeza iria tocar na festa do céu.
-Hoje é o dia da festa no céu. – Falou o Urubu ao Jaboti, trazendo a viola nas costas. – Viemos lavar os meus pés e seguir para lá. Soubemos que foste convidado. Mas, não poderei comparecer, se algum amigo com asas não me der carona... Ninguém quis me ajudar...
-É verdade? Indagou o Urubu, já compadecido do pobre Jaboti.
-É a mais pura e triste verdade, respondeu o espertinho, já chorando para comover o violeiro.
Não deu noutra: o sentimental músico compadeceu-se daquele animalzinho sem asas, tão desejoso de ir à festa e resolveu ajudá-lo, mandando que se escondesse dentro da viola para viajar com segurança. Maia tarde, estarás ouvindo-me tocar e poderás dançar a noite toda, até que nasça o sol. Jaboti obedeceu, entrou na viola, lá permanecendo silencioso. Ao terminar a sua higiene, o Urubu pegou a viola e, na companhia do corvo, tocador de trombone, voaram para o céu, distanciando-se cada vez mais da terra, até que chegou à tão esperada festa.
Foi em um momento de glória para o Jabuti, quando saiu da viola, surpreendendo a todas as aves com a sua presença. O Urubu, o Corvo e os demais músicos da orquestra tocaram durante toda a noite, animando a festa dos bichos. O Jabuti dançou, cantou e comeu todas as delícias da festa. Era a primeira vez que um bicho que não tinha asas participava de uma festa no céu Momentos antes de a festa terminar, já o sol nascia, e o Urubu despediu-se de todos e, pensando que o Jabuti já havia se metido dentro da viola, como haviam combinada, partiu de volta para a terra. A orquestra já arrumava os instrumentos para a volta, quando o Jabuti que perdera o transporte na viola do Urubu, ficou aflitíssimo. Que fazer, para retornar à terra? Foi quando viu, num canto da sala o trombone do Corvo. Ali estava a sua salvação! Não teve dúvidas: meteu-se pelo enorme bocal do instrumento e acomodou-se no fundo, sentindo-se seguro. A meio da viagem de volta, caiu uma grande tempestade, parecia um segundo dilúvio. Quando passou o aguaceiro, o Corvo sentiu o trobone muito pesado pela água que entrou no instrumento. A ave sacudiu o trombone para esvaziá-lo e, sem saber que o Jabuti estava escondido ali, viu, muito assustado, cair de dentro dele o coitadinho Jabuti, gritando por socorro, enquanto despencava pelos ares...
O pobre Jabuti desesperado viu passar diante dos seus olhos a imensidão do vácuo, caindo de costas sobre as pedras. A pancada foi tão forte que seu casco ficou todo quebrado em pedacinhos. Vendo aquela desgraça, Santa Rita compadeceu-se do animalzinho e veio socorrê-lo, colando com um ungüento milagroso todos os pedacinhos do casco do pequeno Jabuti, salvando-lhe a vida. O bichinho ficou curado, mas as marcas dos pedaços remendados cicatrizaram em forma de desenhos. Desde então, todos os Jabutis trazem desenhos nas costas das suas carapaças, como testemunho de que um dia o Jabuti festeiro foi à festa no céu.
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