[Valid Atom 1.0] [Valid Atom 1.0] O Mundo Mágico da Fantasia Contos Infantis: junho 2012

Olá, amiguinhos!

27 de junho de 2012

O PRÍNCIPE E O MENDIGO

Há muitos anos, na velha Londres, nasceram dois rapazes precisamente no mesmo dia.
O mendigo recebeu o nome de Tom Canty e depressa começou a ser notado pelas imitações que fazia da nobreza. Era um verdadeiro artista!
Entretanto o príncipe, Eduardo era educado para ser rei. O pai estava muito doente e não tardaria a ser coroado.
Um dia viu um menino na rua e pediu que o trouxessem ao palácio. Surpresa: eram muitíssimo parecidos, tanto que até pareciam gémeos! Perguntando como era a vida lá fora, o príncipe pediu-lhe que trocassem de roupas. Assim, o mendigo passou a ser o príncipe, e o príncipe o mendigo.
Tom foi tratado como um autêntico príncipe. Conseguiu representar o papel com a maior facilidade... Cometeu erros, é claro, mas desculparam-no. Era o príncipe!
De vez em quando Tom e Eduardo encontravam-se nas ruas de Londres. E brincavam como dois mendigos!
O pior para Eduardo foi viver com os pais de Tom. Teve que vender carne pelas ruas.
Dias mais tarde o rei agonizava. Tom foi conduzido junto dele:
-Meu filho, tens que mostrar-te forte. Vais ser o novo Rei de Inglaterra, -sussurrou o moribundo.
Horas mais tarde, todos os sinos tocavam anunciando a morte do monarca.
- O Rei morreu!... Viva o Rei!
E o que fazia o verdadeiro herdeiro da Coroa? Quis assistir ao velório do pai, mas nem sequer o deixaram sair de casa.
- Enlouqueces-te com essas manias de grandeza, miserável. -disse-lhe o pai de Tom. -Ficarás fechado até ganhares juízo.
Eduardo conseguiu fugir, e foi procurar um amigo. Era um capitão hábil com a espada, que o salvou de mil apuros. Correram para o Palácio, mas não os deixaram entrar. O amigo apresentou-o como o príncipe e julgaram-no louco.
Chorou. As lágrimas inundaram o rosto de Eduardo. Não se tinha despedido do pai por um capricho absurdo...! Ser mendigo...!
Dias depois celebrou-se uma cerimónia...! Tom ia ser coroado Rei de Inglaterra. Com medo que o matassem Tom não disse quem era.
Eduardo conseguiu entretanto entrar no Castelo. Foi buscar o «Selo da Coroa». Só um príncipe saberia onde se guardava.
Entretanto, Tom Canty não podia ser nomeado Rei por faltar o «Selo da Coroa».
-Eu sou o vosso Rei! -anunciou o príncipe. -Provo-o com o «Selo da Coroa». E concedo o meu perdão a Tom Canty, pois a culpa foi toda minha ao querer vestir a pele de mendigo.
Eduardo foi coroado em seguida. Depois das festividades o Rei Eduardo  nomeou Tom Conselheiro do Tesouro, e todos viveram felizes no alegre Reino de Inglaterra.



A Moura Torta Invejosa e a Linda Princesa

Era uma vez um príncipe que, tendo chegado à idade de se casar, não encontrou nenhuma moça que lhe agradasse. Seu pai, que já estava muito velho, vivia muito triste por não ter seu filho encontrado uma princesa para esposa. Receava morrer, deixando o filho solteiro. Como poderia ele governar seu reino sem uma rainha e sem herdeiros? 
Aconselhou então o príncipe a visitar outros países. Talvez ele encontrasse, fora do reino, uma princesa capaz de lhe inspirar amor. O jovem aceitou o conselho do seu velho pai e, para não ser reconhecido, partiu vestido modestamente. Depois de muitos dias de viagem, quando se achava próximo de uma cidade, encontrou uma velhinha corcunda, carregando um feixe de lenha. O príncipe ficou com pena da pobre velha e ofereceu-se para carregar a lenha. Quando chegou à cidade, deu à velhinha uma bolsa cheia de moedas. A velha agradeceu a bondade do rapaz, abençoou-o e disse— Meu filho, não sei como retribuir o que fez por mim. Só tenho estas laranjas para lhe oferecer. Mas, quando as quiser chupar, só as descasque perto de um lugar onde haja água corrente.
O príncipe ficou muito triste com o fato e seguiu viagem. Dias depois, atravessava ele um grande deserto, quando sentiu uma violenta sede. Lembrou-se, mais uma vez, das laranjas e, quando descascava uma, saltou do seu interior uma jovem, ainda mais bela do que a primeira, pedindo água pelo amor de Deus. O príncipe saiu correndo à procura de água, mas não conseguiu sequer uma gota. Quando voltou ao lugar, a linda moça havia desaparecido, sem deixar nenhum vestígio.
Contou sua história ao príncipe. Era filha de um rei muito rico, que havia sido transformada em laranja por sua madrasta, que era feiticeira. O príncipe ficou apaixonado pela moça. Pediu-a em casamento e foi aceito. Resolveu então apresentá-la ao pai. Mas como a moça estivesse muito mal vestida, achou conveniente ir sozinho ao palácio buscar roupas bonitas e uma carruagem para sua noiva. Disse à princesa que subisse a uma árvore, que ficava à margem do rio, recomendando-lhe que não falasse com ninguém, durante sua ausência. Feito isso seguiu, a toda pressa, para o palácio.
Mal o príncipe saiu, chegou à beira do rio uma negra muito feia, cega de um olho, a quem chamavam a Moura Torta. A negra abaixou-se para encher o pote no rio. Nisto, avistou o belo rosto da moça refletido no espelho das águas. Ficou admirada de tanta formosura. Julgando que era seu próprio rosto, exclamou:
:— Ora essa! Uma moça tão bonita como eu, carregando água! Isto não pode ser! E atirou o pote nas pedras, reduzindo-o a cacos. Depois disso, afastou-se toda orgulhosa, da beira do rio. Quando chegou em casa, disse à patroa que o pote havia escorregado de sua mão e caído no rio. A patroa ficou aborrecida com a história, mas deu-lhe outro pote e mandou-a de volta ao rio. Quando a negra mergulhou o pote na água e viu novamente o rosto da moça, refletido no rio, ficou outra vez convencida da própria beleza. Atirou o pote para longe e voltou para casa, inchada de orgulho. A moça, ao ver a "pose" da Moura Torta, quase soltou uma risada, mas conseguiu reprimir o riso e ficou à espera do noivo, que já estava tardando.A patroa, quando viu a negra sem o pote, ficou furiosa. E ameaçou cortá-la de chicote, se ela voltasse para casa sem água. A Moura Torta, muito sucumbida, tomou de novo o caminho do rio, levando, desta vez, um caldeirão de ferro. Quando se abaixou para tirar água e viu, mais uma vez, a imagem da moça, ficou desesperada. Agarrou o caldeirão de ferro, que a patroa lhe havia dado, e começou a bater com ele nas pedras.
A princesa ao ver a cena, não se pôde conter e soltou uma boa gargalhada. A Moura Torta, espantada, olhou para cima e viu a moça na árvore. Compreendeu logo o que havia acontecido e disse: 
— Ah! é você, minha pombinha? Que está fazendo aí nessa árvore? A moça contou que estava esperando o príncipe, seu noivo. Diante disso, a negra subiu até onde estava a princesa e começou a conversar com a mesma. Elogiou os lindos cabelos da moça e pediu licença para penteá-los. A princesa, sem nada desconfiar, atendeu ao seu pedido. Quando a Moura Torta, que era feiticeira, pôs a mão na cabeleira dourada da moça, aproveitou um momento de distração desta e enterrou na sua cabeça um alfinete mágico. Imediatamente a princesa se transformou numa pomba branca, que saiu voando pelo espaço. A Moura Torta tomou então o lugar da jovem e ficou à espera do príncipe. Quando este chegou, numa carruagem lindíssima, trazendo ricos vestidos para a noiva, ficou desapontado ao encontrar, em seu lugar, uma negra feia e caolha. A Moura Torta lhe disse que tinha ficado assim devido ao sol que queimara a sua pele e aos espinhos da árvore que haviam furado seu olho. O príncipe ficou muito acabrunhado, mas, como havia dado sua palavra, levou a bruxa para o palácio. O rei quase morreu de desgosto quando conheceu sua futura nora, mas ficou calado para não aborrecer seu querido filho.
Começaram então os preparativos para o casamento. O príncipe enviou convites para todos os reis e príncipes dos países vizinhos. E a Moura Torta mandou fazer os mais belos vestidos e as mais ricas jóias. Mas quando os experimentava, ficava ainda mais feia e ridícula. Ninguém suportava a presença da horrível bruxa.
O jardineiro do rei estava colhendo flores para o casamento, quando viu uma pombinha branca pousar numa roseira e dizer:Hortelão, hortelão da real horta:Como vai o rei com a sua Moura Torta? O jardineiro contou o caso ao rei e este ao príncipe. O rapaz ficou intrigado com o acontecimento. Resolveu vestir a roupa do jardineiro e observar a pombinha. No dia seguinte, à mesma hora, apareceu, de novo, a pombinha, que pousou num galho de roseira e exclamou: 
-Hortelão, Hortelão da real horta:
-Como vai o rei com a sua Moura Torta? 
O príncipe respondeu:
-Come bem, dorme bem, Passa a vida regalada. Tão feliz e sossegado, Como no mundo ninguém! E acrescentou::
— Põe o teu pezinho aqui, minha pomba. 
— Não, que o meu pé não foi feito para laço de barbante. Dizendo isso, a pombinha bateu asas e fugiu. O príncipe preparou então um laço de ouro. Também falhou Preparou um laço de diamante. Desta vez, a pombinha deixou-se prender. O príncipe levou-a para o palácio e tratou-a com muito carinho. A Moura Torta, vendo a pomba, nela reconheceu a princesa encantada. Disse ao príncipe que lhe desse a pombinha, pois desejava comê-la. O rapaz ficou com muita pena, mas não teve remédio senão atender ao pedido da noiva. Antes, porém, de entregar a linda ave, resolveu fazer-lhe um último carinho e passou a mão pela sua cabeça. Notou, com surpresa, que nela existia um pequeno caroço. Puxando-o, tirou o alfinete mágico. No mesmo instante, a pomba transformou-se na bela princesa que ele havia deixado na árvore. O príncipe ficou radiante de alegria e ouviu da moça a sua triste história. Ficou então sabendo da malvadeza da Moura Torta. A notícia espalhou-se pela cidade. O povo ficou tão indignado que correu ao palácio, tirou de lá a bruxa e a levou para a prisão onde pagaria pelo seu crime. O príncipe casou-se com a linda princesa. E o velho rei pôde então morrer, tranqüilo e feliz, abençoando o filho, que o sucedeu no trono.

Fonte : Contos Maravilhosos – Theobaldo Miranda Santos, Cia Ed. Nacional

15 de junho de 2012

Platiplanto, o cavalinho que gostava de ouvir estrelas

Platiplanto era um cavalinho. Um cavalinho que gostava de ouvir estrelas.
Platiplanto morava numa montanha de nome Peloponeso, que ficava numa ilha distante, e não era um cavalinho comum. Ele era um unicórnio e tinha pai, mãe e um monte de irmãozinhos que gostavam de correr de dia e dormir à noite. Não eram como Platiplanto que dormia de dia, porque todas as noites ele subia ao mais alto rochedo para conversar com as estrelas.As estrelas vinham de longe e sabiam histórias do mundo inteiro!
Platiplanto, que nunca havia saído do Peloponeso, não conhecia nada do mundo, então, ele ouvia as estrelas e aprendia. Aprendia que a terra era redonda e que as estrelas viviam fugindo do dia para nunca deixarem de brilhar. E Platiplanto achava maravilhoso fugir do dia. O dia, para ele, servia apenas para dormir enquanto a noite não chegava, recheada de fantásticas descobertas. Aprendia que no Pólo Norte a neve era eterna. Que a neve era macia e gostosa como as nuvens de algodão e era lá que morava a Rainha do Inverno, muito branca e muito fria. Mas, Platiplanto não gostava de frio. Ele gostava era do macio da neve, por isso quis experimentá-lo. As estrelas, então, empurraram um monte de nuvenzinhas e fizeram uma cama deliciosa na relva, onde Platiplanto pulou e rolou feliz.Assim, todas as noites as estrelas contavam sobre novos lugares para o unicórnio que, chifrinho em riste, não perdia uma palavra!E as estrelas lhe contaram sobre o mar. Contaram que amavam refletir-se em suas águas, onde tinham descoberto suas irmãs, as estrelas do mar. E Platiplanto desejou o mar com suas estrelas. Correu para olhar as águas claras do riacho e ao ver suas amigas nelas refletidas, ficou feliz, imaginando que o mar não devia ser muito diferente.E as estrelas lhe contaram sobre o deserto e as areias do deserto. Disseram que havia tantos grãos de areia, quantas estrelas no céu, e que a areia também era fofa e macia. Contaram que o dono do deserto era um tal de Verão, um senhor muito, muito quente, e Platiplanto conheceu o deserto contando as estrelas.E elas lhe falaram das florestas e dos animais das florestas. Falaram-lhe de onças, macacos, elefantes, javalis, rinocerontes, zebras… Falaram-lhe das borboletas, das águias e dos pirilampos, que, à noite, brilhavam entre as ramagens, assim, toda vez que Platiplanto via uma estrela cair, imaginava-se numa grande floresta.E elas lhe falaram também sobre os campos floridos de trigais e lhe explicaram que, do trigo, se faz o pão para alimentar os homens, e então Platiplanto ficou muito curioso. Quem seriam os homens, dos quais ele nunca ouvira falar?E as estrelas lhe contaram então que os homens eram seres que conquistavam os mares e os desertos, os campos e as montanhas, as florestas e os animais. Contaram-lhe que essa raça vivia em grandes bandos, que andavam no céu em pássaros de fogo, e no mar em peixes de metal. Que tinham chifres maiores e mais afiados do que o de Platiplanto, e que usavam eles para lutar e destruir tudo que desejassem. Que eles derrubavam florestas, poluíam os rios, explodiam geleiras, envenenavam o ar, matavam os animais. Ele que tomasse muito cuidado com os homens!Naquele dia Platiplanto não conseguiu adormecer tranqüilo e feliz como sempre fazia. Embora dissesse às estrelas que jamais queria conhecer essas criaturas, teve medo que um dia elas descobrissem a sua montanha e o machucassem…Vamos, filho…feche os olhos e vamos voar até Peloponeso para acalmar o Platiplanto. Vamos contar-lhe que nem todos os homens são maus assim…

Ludmila Saharovsky

7 de junho de 2012

A Pequena vendedora de fósforo, de Hans C. Andersen

Fazia um frio terrível; caía a neve e estava quase escuro; a noite descia: a última noite do ano.
Em meio ao frio e à escuridão uma pobre menininha, de pés no chão e cabeça descoberta, caminhava pelas ruas.
Quando saiu de casa trazia chinelos; mas de nada adiantavam, eram chinelos tão grandes para seus pequenos pezinhos, eram os antigos chinelos de sua mãe.
A menininha os perdera quando escorregara na estrada, onde duas carruagens passaram terrivelmente depressa, sacolejando.
Um dos chinelos não mais foi encontrado, e um menino se apoderara do outro e fugira correndo.
Depois disso a menininha caminhou de pés nus - já vermelhos e roxos de frio.
Dentro de um velho avental carregava alguns fósforos, e um feixinho deles na mão.
Ninguém lhe comprara nenhum naquele dia, e ela não ganhara sequer um níquel.
Tremendo de frio e fome, lá ia quase de rastos a pobre menina, verdadeira imagem da miséria!
Os flocos de neve lhe cobriam os longos cabelos, que lhe caíam sobre o pescoço em lindos cachos; mas agora ela não pensava nisso.
Luzes brilhavam em todas as janelas, e enchia o ar um delicioso cheiro de ganso assado, pois era véspera de Ano-Novo.
Sim: nisso ela pensava!
Numa esquina formada por duas casas, uma das quais avançava mais que a outra, a menininha ficou sentada; levantara os pés, mas sentia um frio ainda maior.
Não ousava voltar para casa sem vender sequer um fósforo e, portanto sem levar um único tostão.
O pai naturalmente a espancaria e, além disso, em casa fazia frio, pois nada tinham como abrigo, exceto um telhado onde o vento assobiava através das frinchas maiores, tapadas com palha e trapos.
Suas mãozinhas estavam duras de frio.
Ah! bem que um fósforo lhe faria bem, se ela pudesse tirar só um do embrulho, riscá-lo na parede e aquecer as mãos à sua luz!
Tirou um: trec! O fósforo lançou faíscas, acendeu-se.
Era uma cálida chama luminosa; parecia uma vela pequenina quando ela o abrigou na mão em concha...
Que luz maravilhosa!
Com aquela chama acesa a menininha imaginava que estava sentada diante de um grande fogão polido, com lustrosa base de cobre, assim como a coifa.
Como o fogo ardia! Como era confortável!
Mas a pequenina chama se apagou, o fogão desapareceu, e ficaram-lhe na mão apenas os restos do fósforo queimado.
Riscou um segundo fósforo.
Ele ardeu, e quando a sua luz caiu em cheio na parede ela se tornou transparente como um véu de gaze, e a menininha pôde enxergar a sala do outro lado. Na mesa se estendia uma toalha branca como a neve e sobre ela havia um brilhante serviço de jantar. O ganso assado fumegava maravilhosamente, recheado de maçãs e ameixas pretas. Ainda mais maravilhoso era ver o ganso saltar da travessa e sair bamboleando em sua direção, com a faca e o garfo espetados no peito!
Então o fósforo se apagou, deixando à sua frente apenas a parede áspera, úmida e fria.
Acendeu outro fósforo, e se viu sentada debaixo de uma linda árvore de Natal. Era maior e mais enfeitada do que a árvore que tinha visto pela porta de vidro do rico negociante. Milhares de velas ardiam nos verdes ramos, e cartões coloridos, iguais aos que se vêem nas papelarias, estavam voltados para ela. A menininha espichou a mão para os cartões, mas nisso o fósforo apagou-se. As luzes do Natal subiam mais altas. Ela as via como se fossem estrelas no céu: uma delas caiu, formando um longo rastilho de fogo.
"Alguém está morrendo", pensou a menininha, pois sua vovozinha, a única pessoa que amara e que agora estava morta, lhe dissera que quando uma estrela cala, uma alma subia para Deus.
Ela riscou outro fósforo na parede; ele se acendeu e, à sua luz, a avozinha da menina apareceu clara e luminosa, muito linda e terna.
- Vovó! - exclamou a criança.
- Oh! leva-me contigo!
Sei que desaparecerás quando o fósforo se apagar!
Dissipar-te-ás, como as cálidas chamas do fogo, a comida fumegante e a grande e maravilhosa árvore de Natal!
E rapidamente acendeu todo o feixe de fósforos, pois queria reter diante da vista sua querida vovó. E os fósforos brilhavam com tanto fulgor que iluminavam mais que a luz do dia. Sua avó nunca lhe parecera grande e tão bela. Tornou a menininha nos braços, e ambas voaram em luminosidade e alegria acima da terra, subindo cada vez mais alto para onde não havia frio nem fome nem preocupações - subindo para Deus.
Mas na esquina das duas casas, encostada na parede, ficou sentada a pobre menininha de rosadas faces e boca sorridente, que a morte enregelara na derradeira noite do ano velho.
O sol do novo ano se levantou sobre um pequeno cadáver.
A criança lá ficou, paralisada, um feixe inteiro de fósforos queimados. - Queria aquecer-se - diziam os passantes.