Platiplanto era um cavalinho. Um cavalinho que gostava de ouvir estrelas.
Platiplanto morava numa montanha de nome Peloponeso, que ficava numa ilha distante, e não era um cavalinho comum. Ele era um unicórnio e tinha pai, mãe e um monte de irmãozinhos que gostavam de correr de dia e dormir à noite. Não eram como Platiplanto que dormia de dia, porque todas as noites ele subia ao mais alto rochedo para conversar com as estrelas.As estrelas vinham de longe e sabiam histórias do mundo inteiro!
Platiplanto, que nunca havia saído do Peloponeso, não conhecia nada do mundo, então, ele ouvia as estrelas e aprendia. Aprendia que a terra era redonda e que as estrelas viviam fugindo do dia para nunca deixarem de brilhar. E Platiplanto achava maravilhoso fugir do dia. O dia, para ele, servia apenas para dormir enquanto a noite não chegava, recheada de fantásticas descobertas. Aprendia que no Pólo Norte a neve era eterna. Que a neve era macia e gostosa como as nuvens de algodão e era lá que morava a Rainha do Inverno, muito branca e muito fria. Mas, Platiplanto não gostava de frio. Ele gostava era do macio da neve, por isso quis experimentá-lo. As estrelas, então, empurraram um monte de nuvenzinhas e fizeram uma cama deliciosa na relva, onde Platiplanto pulou e rolou feliz.Assim, todas as noites as estrelas contavam sobre novos lugares para o unicórnio que, chifrinho em riste, não perdia uma palavra!E as estrelas lhe contaram sobre o mar. Contaram que amavam refletir-se em suas águas, onde tinham descoberto suas irmãs, as estrelas do mar. E Platiplanto desejou o mar com suas estrelas. Correu para olhar as águas claras do riacho e ao ver suas amigas nelas refletidas, ficou feliz, imaginando que o mar não devia ser muito diferente.E as estrelas lhe contaram sobre o deserto e as areias do deserto. Disseram que havia tantos grãos de areia, quantas estrelas no céu, e que a areia também era fofa e macia. Contaram que o dono do deserto era um tal de Verão, um senhor muito, muito quente, e Platiplanto conheceu o deserto contando as estrelas.E elas lhe falaram das florestas e dos animais das florestas. Falaram-lhe de onças, macacos, elefantes, javalis, rinocerontes, zebras… Falaram-lhe das borboletas, das águias e dos pirilampos, que, à noite, brilhavam entre as ramagens, assim, toda vez que Platiplanto via uma estrela cair, imaginava-se numa grande floresta.E elas lhe falaram também sobre os campos floridos de trigais e lhe explicaram que, do trigo, se faz o pão para alimentar os homens, e então Platiplanto ficou muito curioso. Quem seriam os homens, dos quais ele nunca ouvira falar?E as estrelas lhe contaram então que os homens eram seres que conquistavam os mares e os desertos, os campos e as montanhas, as florestas e os animais. Contaram-lhe que essa raça vivia em grandes bandos, que andavam no céu em pássaros de fogo, e no mar em peixes de metal. Que tinham chifres maiores e mais afiados do que o de Platiplanto, e que usavam eles para lutar e destruir tudo que desejassem. Que eles derrubavam florestas, poluíam os rios, explodiam geleiras, envenenavam o ar, matavam os animais. Ele que tomasse muito cuidado com os homens!Naquele dia Platiplanto não conseguiu adormecer tranqüilo e feliz como sempre fazia. Embora dissesse às estrelas que jamais queria conhecer essas criaturas, teve medo que um dia elas descobrissem a sua montanha e o machucassem…Vamos, filho…feche os olhos e vamos voar até Peloponeso para acalmar o Platiplanto. Vamos contar-lhe que nem todos os homens são maus assim…
Ludmila Saharovsky
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