[Valid Atom 1.0] [Valid Atom 1.0] O Mundo Mágico da Fantasia Contos Infantis: abril 2012

Olá, amiguinhos!

30 de abril de 2012

Pinóquio, de Hans Christian Andersen

Numa aldeia italiana vivia Gepeto, o melhor relojoeiro do mundo. Um dia construiu um boneco quase perfeito...!
-Serás o filho que não tive, e vou chamar-te Pinóquio. Nessa noite a Fada Madrinha visitou a oficina de Gepeto. Tocando Pinóquio com a varinha mágica disse:
- Vou-te dar vida, boneco. Mas deves ser sempre bom e verdadeiro!
No dia seguinte Gepeto apercebeu-se que os seus desejos se tinham tornado realidade. Mandou então Pinóquio à escola, acompanhado pelo grilo cantante Pepe. No caminho encontraram a D. Raposa e a D. Gata.
- Porque vais para a Escola havendo por aí tantos lugares bem mais alegres? - perguntou a raposa.
- Não lhe dês ouvidos! - avisou-o Pepe. Mas Pinóquio, para quem tudo era novidade, seguiu mesmo as tratantes e acabou à frente de Strombóli, o dono de um teatrinho de marionetas.
- Comigo serás o artista mais famoso do mundo! - segredou-lhe o astucioso Strombóli.
O espectáculo começou. Pinóquio foi a estrela, principalmente pelas suas faltas, que causaram muita risota. Os outros bonecos eram hábeis, enquanto o novo só fazia asneiras... Por isso triunfou! No final do espectáculo Pinóquio quis ir-se embora, mas Strombóli tinha outros planos.
- Ficas preso nesta jaula, boneco falante. Vales mais que um diamante! Por sorte o grilo Pepe correu a avisar a Fada Madrinha, que enviou uma borboleta mágica para salvar Pinóquio. Quando se recompôs do susto, a borboleta perguntou-lhe aonde vivia.
- Não tenho casa. - respondeu o boneco.
A borboleta voltou a fazer-lhe a mesma pergunta, e ele a dar a mesma resposta. Mas, de cada vez que mentia, o nariz crescia-lhe mais um pouco, pelo que não conseguiu enganar a Borboleta Mágica.
- Não quero este nariz! - soluçou Pinóquio.
- Terás que te portar bem e não mentir! Voltas para casa e para a Escola. - disse-lhe a Borboleta Mágica.
Depois de regressar a casa, aonde foi recebido com muita alegria por Gepeto, passou a portar-se bem. Tempos depois, de novo quando ia para a Escola, voltou a encontrar a Raposa, que o desafiou para a acompanhar à Ilha dos Jogos. Assim que entrou começaram a crescer-lhe as orelhas e a transformar-se em burro. Aflito, valeu-lhe o grilo Pepe, que lhe disse:
- Anda, Pinóquio. Conheço uma porta secreta...! Não te queres transformar em burro, pois não? Levar-te-iam para um curral!
- Sim, vou contigo, meu amigo.
Ao chegarem a casa encontraram-na vazia. Por uns marinheiros souberam que Gepeto se tinha feito ao mar num bote. Como o grilo Pepe era muito esperto, ensinou Pinóquio a construir uma jangada. Dois dias mais tarde, quando navegavam já longe de terra, avistaram uma baleia.
- Essa baleia vem direita a nós! gritou Pepe. - Saltemos para a água!
Mas não puderam salvar-se ... a baleia engoliu-os. Em breve descobriram que no interior da barriga estava Gepeto, que tinha naufragado no decurso de uma tempestade. Depois de se terem abraçado, resolveram acender uma fogueira. A baleia espirrou e lançou-os fora.
- Perdoa-me papá. - suplicou Pinóquio muito arrependido. E a partir dali mostrou-se tão dedicado e bondoso que a Fada Madrinha, no dia do seu primeiro aniversário, o transformou num menino de carne e osso, num menino de verdade.
- Agora tenho um filho verdadeiro! - exclamou contentíssimo Gepeto.

29 de abril de 2012

O Coelhinho Joca


"Era uma vez quatro coelhinhos chamados: Bolinha, Mimoso, Algodãozinho e Joca. Eles moravam com sua mãezinha, embaixo de um grande pinheiro. Dona Coelha, precisando um dia sair para fazer compras, chamou-os e disse:
- Escutem, queridos, mamãe vai sair. Se vocês quiserem, podem dar uma voltinha, mas, por favor, não entrem na horta do Sr. Tinoco. Seu pai teve um acidente lá e nunca mais voltou para casa. Tenham juízo, filhotes, eu não me demoro.
Dona Coelha apanhou a sombrinha, a cesta de compra e foi à padaria. Comprou cinco bolinhos com passas e um pão de forma. Bolinha, Mimoso e Algodãozinho, que eram muito ajuizados, foram colher amoras. Joca, porém, que era muito desobediente, passou por debaixo da cerca e foi à horta do Sr. Tinoco. Lá chegando, comeu alfaces, cenouras e rabanetes, até não poder mais. Sentou-se para descansar um pouco. Exatamente ali, perto do canteiro dos repolhos, estava o Sr. Tinoco. Assim que avistou o coelhinho, correu ao seu encalço, de ancinho na mão.
Joca ficou muito assustado; corria para todos os lados e não conseguia acertar a saída. Perdeu um dos sapatos no meio dos repolhos, e o outro, perto das batatas. Cada vez ele corria mais. De repente, ficou preso, pelo botão do casaco, numa rede que protegia as uvas. Começou a chorar alto. Uns pardais muito bonzinhos, que voavam por ali, vieram consolá-lo.
Entretanto, o Sr. Tinoco não tinha desistido de pegá-lo. Ali veio ter, com uma enorme peneira na mão, pretendendo com ela prender o pobre bichinho. Nesse instante, porém, Joca deu um arranco e conseguiu desprender-se. No entanto, ficou sem o casaco e caiu em cima da caixa de ferramentas. Levantou-se depressa, e escondeu-se dentro de uma lata grande que viu à sua frente. A lata estava cheia de água e Joca estava muito suado; por isso, começou a sentir arrepios de frio e pôs-se a espirrar. O Sr. Tinoco, que o havia perdido de vista, descobriu o seu esconderijo e correu para a lata. O coelhinho, porém, foi mais ligeiro; pulou fora da lata e ocultou-se atrás de uns vasos de plantas.
O Sr. Tinoco já estava cansado de tanto correr à procura do coelhinho, de maneira que resolveu voltar para casa. Joca, quando percebeu que o seu perseguidor o deixara em paz, sentou-se para descansar. Estava quase sem respiração e tremia da cabeça aos pés. Além disso, não tinha a menor idéia de como sair dali.
Enquanto pensava na situação, apareceu um rato que carregava, na boca, alimento para os seus filhinhos. Joca perguntou-lhe onde ficava a saída, mas ele não lhe respondeu, apenas sacudiu a cabeça. Então o coitadinho resolveu ir andando para ver se descobria alguma coisa.
Atravessou o jardim e chegou a um tanque onde o Sr. Tinoco costumava encher as latas de água. Ali estava sentado um gatinho, apreciando os peixinhos dourados que havia no tanque. Joca, a princípio, teve vontade de dirigir-lhe a palavra, mas pensou melhor e foi andando. Seu primo, o coelhinho Benjamim, sempre lhe contava histórias perigosas sobre gatos...
Um pouco adiante encontrou uma carrocinha. Subiu nela e olhou à volta. Lá adiante estava o seu inimigo, o Sr. Tinoco, cuidando de um canteiro. Do lado oposto, ficava o portão. Que alívio! Muito de mansinho, sem fazer barulho, foi ele se arrastando, até que se viu, são e salvo, perto do pinheiro onde ficava sua casa. Estava tão cansado que se deitou ali mesmo e fechou os olhos.
Dona Coelha estava preparando o jantar. Quando o viu ali fora, assim, abatido, ficou imaginando o que lhe teria acontecido. Ficou, porém, muito zangada quando viu que ele havia perdido os sapatos e o casaco. Levou-o, no colo, para a cama e notou que ele estava febril.
À hora do jantar, Bolinha, Mimoso e Algodãozinho foram para a mesa, comeram bolinhos com morangos e tomaram leite quentinho. Joca ficou na cama e tomou chá de limão.
No dia seguinte, ainda se sentia mal. Estava tão arrependido, que prometeu à mamãe nunca mais desobedecer-lhe e ser tão comportado quanto seus outros irmãos."

AUTOR DESCONHECIDO
Imagens Gifs.

A pequenina luz azul, de Malba Tahan

Certa manhã, o sultão El-Khamir, disse ao prefeito:
- Esta noite avistei ao longe uma pequenina luz azul e desejo saber quem passou a noite a velar. Ordeno-lhe apurar a razão desta vigília.
- Obedeço à Vossa Majestade! Porém, é inútil esse inquérito, pois aquela luz provinha do oratório da minha casa! Eu e minha família passamos a noite pedindo a Deus pela saúde de Vossa Majestade!
- Obrigado meu bom amigo - sinceramente comovido acrescentou - saberei corresponder aos cuidados que lhe mereço.
O rei, então, chamou o grão-vizir Moallin.
- Resolvi recompensar com mil dinares de ouro o prefeito.
- Por Alá! É muito dinheiro! Que teria feito ele para merecer?
- Praticou uma ação nobre e sublime - e narrou o caso da luz.
- Permita-me ponderar, estais sendo iludido, posso provar, ele não tem família e só sabe orar nas Mesquitas, quando obrigado.
- Mas... E a luz azul, de onde vinha?
- Vejo-me obrigado a confessar, passei a noite cogitando a cerca dos graves problemas e das questões que Vossa Majestade deve resolver hoje! Juro pelo Alcorão que essa é a verdade!
- Grande e esforçado amigo! - jubiloso disse:
- Tereis uma recompensa digna de vossa dedicação!
O rei chamou o general Muhiddin e contou que estava resolvido a conceder o título de xeque de Lohéia ao grão-vizir Moallin. E o bom monarca, contou ao general a história da luz azul.
- Vós acreditastes nisso? Peço provar que ele mentiu como um infiel!
Mentira o prefeito, o grão-vizir! Como poderia, o rei, apurar a verdade? Modesto, o general confessou:
- Queria ocultar a verdade mas me vejo obrigado a revelar que aquela pequenina luz azul provinha de minha tenda - e o general não hesitou - com receio que os revoltosos atacassem a noite, acampei nas cercanias da cidade, para maior garantia da vida do rei.
Que heroísmo! O sultão não sabia como agradecer. E depois que o general saiu cogitou: "vou lhe conceder o título de príncipe e uma pensão anual de vinte mil dinares! Não... Merece muito mais... Salvou-me a vida.. A coroa... Como não chegasse a uma conclusão satisfatória consultou Ali-Effendi, seu velho mestre e conselheiro.
O sábio ponderou:
- Não deves acreditar no prefeito, nem no grão-vizir, nem no general. Creio que a tal luz provinha do farol de El-Basin.
O rei surpreso:
- Então era a luz do farol!
Naquela mesma noite, depois da última prece, o rei chegou à varanda para olhar o panorama da cidade, que dormia. Surpresa estranha: como todos já sabiam sobre as recompensas, a cidade estava extraordinariamente iluminada. Nunca se vira tanta luz azul! E o crédulo rei compreendeu então, que para cada súdito honesto e dedicado havia um milhão de mentirosos e bajuladores.

Imagens: "Manbluelite" jpg.


28 de abril de 2012

Joãozinho e Maria


Às margens de uma floresta existia, há muito tempo, uma cabana pobre feita de troncos de árvores, onde moravam um lenhador, sua segunda esposa e seus dois filhinhos, nascidos do primeiro casamento. O garoto chamava-se João e a menina, Maria.
Na casa do lenhador, a vida sempre fora difícil, mas, naquela época, as coisas pioraram: não havia pão para todos.
— Mulher, o que será de nós? Acabaremos morrendo de fome. E as crianças serão as primeiras.
— Há uma solução... – disse a madrasta, que era muito malvada – amanhã daremos a João e Maria um pedaço de pão, depois os levaremos à mata e lá os abandonaremos. O lenhador não queria nem ouvir um plano tão cruel, mas a mulher, esperta e insistente, conseguiu convencê-lo. No aposento ao lado, as duas crianças tinham escutado tudo, e Maria desatou a chorar.
— E agora, João? Sozinhos na mata, vamos nos perder e morrer.
— Não chore — tranqüilizou o irmão. — Tenho uma idéia.
Esperou que os pais estivessem dormindo, saiu da cabana, catou um punhado de pedrinhas brancas que brilhavam ao clarão da Lua e as escondeu no bolso. Depois voltou para a cama. No dia seguinte, ao amanhecer, a madrasta acordou as crianças.
— Vamos cortar lenha na mata. Este pão é para vocês.
Partiram os quatro. O lenhador e a mulher na frente, as crianças atrás. A cada dez passos, João deixava cair no chão uma pedrinha branca, sem que ninguém percebesse. Quando chegaram bem no meio da mata, a madrasta disse:
-— João e Maria, descansem enquanto nós vamos rachar lenha para a lareira. Mais tarde passaremos para pegar vocês. Os dois irmãos, após longa espera, comeram o pão e, cansados e fracos, adormeceram. Acordaram à noite, e nem sinal dos pais.
— Estamos perdidos! Nunca mais encontraremos o caminho de casa! — soluçou Maria.
— Quando a Lua aparecer no céu acharemos o caminho de casa — consolou-a o irmão.
Quando a Lua apareceu, as pedrinhas que João tinha deixado cair pelo atalho começaram a brilhar, e, seguindo-as, os irmãos conseguiram voltar à cabana.
Ao vê-los, os pais ficaram espantados. O lenhador, em seu íntimo, estava contente, mas a mulher não. Assim que foram deitar, disse que precisavam tentar novamente, com o mesmo plano. João, que tudo escutara, quis sair à procura de outras pedrinhas, mas não pôde, pois a madrasta trancara a porta. Maria estava desesperada.
— Como poderemos nos salvar desta vez?
— Daremos um jeito, você vai ver.
Na madrugada do dia seguinte, a madrasta acordou as crianças e foram novamente para a mata. Enquanto caminhavam, Joãozinho esfarelou todo o seu pão e o da irmã, fazendo uma trilha. Desta vez afastaram-se ainda mais de casa e, chegando a uma clareira, os pais deixaram as crianças com a desculpa de cortar lenha, abandonando-as.
João e Maria adormeceram, famintos e cansados. Quando acordaram,estava muito escuro, e Maria desatou a chorar. Mas desta vez não conseguiram encontrar o caminho: os pássaros haviam comido todas as migalhas. Andaram a noite toda e o dia seguinte inteirinho, sem conseguir sair daquela floresta, e estavam com muita fome. De repente, viram uma casinha muito mimosa. Aproximaram-se, curiosos, e viram, encantados, que o telhado era feito de chocolate, as paredes de bolo e as janelas de jujuba
— Viva!— gritou João. E correu para morder uma parte do telhado, enquanto Mariazinha enchia a boca de bolo, rindo. Ouviu-se então uma vozinha aguda, gritando no interior da casinha:
— Quem está o teto mordiscando e as paredes roendo?
As crianças, pensando que a voz era de uma menina de sua idade, responderam:
— É o Saci-pererê que está zombando de você!
Subitamente, abriu-se a porta da casinha e saiu uma velha muito feia, mancando, apoiada em uma muleta. João e Maria se assustaram, mas a velha sorriu, mostrando a boca desdentada.
— Não tenham medo, crianças. Vejo que têm fome, a ponto de quase destruir a casa. Entrem, vou preparar uma jantinha.
O jantar foi delicioso, e a velha senhora ajeitou gostosas caminhas macias para João e Maria, que adormeceram felizes. Não sabiam, os coitadinhos, que a velha era uma bruxa que comia crianças e, para atraí-las, tinha construído uma casinha de doces. Agora ela esfregava as mãos, satisfeita.
— Estão em meu poder, não podem me escapar. Porém estão um pouco magros. É preciso fazer alguma coisa.
Na manhã seguinte, enquanto ainda estavam dormindo, a bruxa agarrou João e o prendeu em um porão escuro, depois, com uma sacudida, acordou Maria.
— De pé, preguiçosa! Vá tirar água do poço, acenda o fogo e apronte uma boa refeição para seu irmão. Ele está fechado no porão e tem de engordar bastante. Quando chegar no ponto vou comê-lo. Mariazinha chorou e se desesperou, mas foi obrigada a obedecer. Cada dia cozinhava para o irmão os melhores quitutes. E também, a cada manhã, a bruxa ia ao porão e, por ter vista fraca e não enxergar bem, mandava:
— João, dê-me seu dedo, quero sentir se já engordou!
Mas o esperto João, em vez de um dedo, estendia-lhe um ossinho de frango. A bruxa zangava-se, pois apesar do que comia, o moleque estava cada vez mais magro!
Um dia perdeu a paciência.
— Maria, amanhã acenda o fogo logo cedo e coloque água para ferver. Magro ou gordo, pretendo comer seu irmão. Venho esperando isso há muito tempo!
A menina chorou, suplicou, implorou, em vão. A bruxa se aborrecera de tanto esperar.
Na manhã seguinte, Maria tratou de colocar no fogo o caldeirão cheio de água, enquanto a bruxa estava ocupada em acender o forno para assar o pão. Na verdade ela queria assar a pobre Mariazinha, e do João faria cozido. Quando o forno estava bem quente, a bruxa disse à menina:
— Entre ali e veja se a temperatura está boa para assar pão. Mas Maria, que desconfiava sempre da bruxa, não caiu na armadilha.
— Como se entra no forno? — perguntou ingenuamente.
— Você é mesmo uma boba! Olhe para mim! — e enfiou a cabeça dentro do forno.
Maria empurrou a bruxa para dentro do forno e fechou a portinhola com a corrente. A malvada queimou até o último osso. A menina correu para o porão e libertou o irmão. Abraçaram-se,chorando lágrimas de alegria; depois, nada mais tendo a temer,exploraram a casa da bruxa. E quantas coisas acharam! Cofres e mais cofres cheios de pedras preciosas, de pérolas...
Encheram os bolsos de pérolas. Maria fez uma trouxinha com seu aventalzinho, e a encheu com diamantes, rubis e esmeraldas. Deixaram a casa da feiticeira e avançaram pela mata. Andaram muito. Depois de algum tempo, chegaram a uma clareira, e perceberam que conheciam aquele lugar. Certa vez tinham apanhado lenha ali, de outra vez tinham ido colher mel naquelas árvores...
Finalmente, avistaram a cabana de seu pai. Começaram a correr naquela direção, escancararam a porta e caíram nos braços do lenhador que, assustado, não sabia se ria ou chorava.
Quantos remorsos o tinham atormentado desde que abandonara os filhos na mata! Quantos sonhos horríveis tinham perturbado suas noites! Cada porção de pão que comia ficava atravessada na garganta. Única sorte, a madrasta ruim, que o obrigara a livrar-se dos filhos, já tinha morrido.
João esvaziou os bolsos, retirando as pérolas que havia guardado; Maria desamarrou o aventalzinho e deixou cair ao chão a chuva de pedras preciosas. Agora, já não precisariam temer nem miséria nem carestia. E assim, desde aquele dia o lenhador e seus filhos viveram na fartura, sem mais nenhuma preocupação.

Da tradição oral

27 de abril de 2012

O Apólogo, de Machado de Assis

Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:
— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma cousa neste mundo?
— Deixe-me, senhora.
— Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.
— Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros.
— Mas você é orgulhosa.
— Decerto que sou.
— Mas por quê?
— É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu?
— Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu e muito eu?
— Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados...
— Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem atrás obedecendo ao que eu faço e mando...
— Também os batedores vão adiante do imperador.
— Você é imperador?
— Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto...
Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha:
— Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e acima...
A linha não respondia; ia andando. Buraco aberto pela agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha, vendo que ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a costura, para o dia seguinte. Continuou ainda nessa e no outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile.
Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se, levava a agulha espeta-da no corpinho, para dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da bela dama, e puxava de um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando, acolchetando, a linha para mofar da agulha, perguntou-lhe:
— Ora, agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? Vamos, diga lá.
Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha:
— Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico.
Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça:
— Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!

Texto de Machado de Assis, extraído do livro "Para Gostar de Ler - Volume 9 - Contos", Editora Ática - São Paulo, 1984, pág. 59


25 de abril de 2012

Chapelzinho Vermelho, dos Irmãos Grimm


Era uma vez, numa pequena cidade às margens da floresta, uma menina de olhos negros e louros cabelos cacheados, tão graciosa quanto valiosa.
Um dia, com um retalho de tecido vermelho, sua mãe costurou para ela uma curta capa com capuz; ficou uma belezinha, combinando muito bem com os cabelos louros e os olhos negros da menina.
Daquele dia em diante, a menina não quis mais saber de vestir outra roupa, senão aquela e, com o tempo, os moradores da vila passaram a chamá-la de “Chapeuzinho Vermelho”.
Além da mãe, Chapeuzinho Vermelho não tinha outros parentes, a não ser uma avó bem velhinha, que nem conseguia mais sair de casa. Morava numa casinha, no interior da mata. De vez em quando ia lá visitá-la com sua mãe, e sempre levavam alguns mantimentos.
Um dia, a mãe da menina preparou algumas broas das quais a avó gostava muito mas, quando acabou de assar os quitutes, estava tão cansada que não tinha mais ânimo para andar pela floresta e levá-las para a velhinha.
Então, chamou a filha:
— Chapeuzinho Vermelho, vá levar estas broinhas para a vovó, ela gostará muito. Disseram-me que há alguns dias ela não passa bem e, com certeza, não tem vontade de cozinhar.
— Vou agora mesmo, mamãe.
— Tome cuidado, não pare para conversar com ninguém e vá direitinho, sem desviar do caminho certo. Há muitos perigos na floresta!
— Tomarei cuidado, mamãe, não se preocupe. A mãe arrumou as broas em um cesto e colocou também um pote de geléia e um tablete de manteiga. A vovó gostava de comer as broinhas com manteiga fresquinha e geléia.
Chapeuzinho Vermelho pegou o cesto e foi embora. A mata era cerrada e escura. No meio das árvores somente se ouvia o chilrear de alguns pássaros e, ao longe, o ruído dos machados dos lenhadores.
A menina ia por uma trilha quando, de repente, apareceu-lhe na frente um lobo enorme, de pêlo escuro e olhos brilhantes. Olhando para aquela linda menina, o lobo pensou que ela devia ser macia e saborosa. Queria mesmo devorá-la num bocado só. Mas não teve coragem, temendo os cortadores de lenha que poderiam ouvir os gritos da vítima. Por isso, decidiu usar de astúcia.
— Bom dia, linda menina — disse com voz doce.
— Bom dia — respondeu Chapeuzinho Vermelho.
— Qual é seu nome?
— Chapeuzinho Vermelho
— Um nome bem certinho para você. Mas diga-me, Chapeuzinho Vermelho, onde está indo assim tão só?
— Vou visitar minha avó, que não está muito bem de saúde.
— Muito bem! E onde mora sua avó
— Mais além, no interior da mata.
— Explique melhor, Chapeuzinho Vermelho.
— Numa casinha com as venezianas verdes, logo após o velho engenho de açúcar.
O lobo teve uma idéia e propôs:
— Gostaria de ir também visitar sua avó doente. Vamos fazer uma aposta, para ver quem chega primeiro. Eu irei por aquele atalho lá abaixo, e você poderá seguir por este. Chapeuzinho Vermelho aceitou a proposta.
— Um, dois, três, e já! — gritou o lobo.
Conhecendo a floresta tão bem quanto seu nariz, o lobo escolhera para ele o trajeto mais breve, e não demorou muito para alcançar a casinha da vovó. Bateu à porta o mais delicadamente possível, com suas enormes patas.
— Quem é? — perguntou a avó.
O lobo fez uma vozinha doce, doce, para responder:
— Sou eu, sua netinha, vovó. Trago broas feitas em casa, um vidro de geléia e manteiga fresca.
A boa velhinha, que ainda estava deitada, respondeu:
— Puxe a tranca, e a porta se abrirá.
O lobo entrou, chegou ao meio do quarto com um só pulo e devorou a pobre vovozinha, antes que ela pudesse gritar.
Em seguida, fechou a porta. Enfiou-se embaixo das cobertas e ficou à espera de Chapeuzinho Vermelho. A essa altura, Chapeuzinho Vermelho já tinha esquecido do lobo e da aposta sobre quem chegaria primeiro. Ia andando devagar pelo atalho, parando aqui e acolá: ora era atraída por uma árvore carregada de pitangas, ora ficava observando o vôo de uma borboleta, ou ainda um ágil esquilo. Parou um pouco para colher um maço de flores do campo, encantou-se a observar uma procissão de formigas e correu atrás de uma joaninha.
Finalmente, chegou à casa da vovó e bateu de leve na porta.
— Quem está aí? — perguntou o lobo, esquecendo de disfarçar a voz.
Chapeuzinho Vermelho se espantou um pouco com a voz rouca, mas pensou que fosse porque a vovó ainda estava gripada.
— É Chapeuzinho Vermelho, sua netinha. Estou trazendo broinhas, um pote de geléia e manteiga bem fresquinha!
Mas aí o lobo se lembrou de afinar a voz cavernosa antes de responder:
— Puxe o trinco, e a porta se abrirá.
— Chapeuzinho Vermelho puxou o trinco e abriu a porta.
O lobo estava escondido, embaixo das cobertas, só deixando aparecer a touca que a vovó usava para dormir.
— Coloque as broinhas, a geléia e a manteiga no armário, minha querida netinha, e venha aqui até a minha cama. Tenho muito frio, e você me ajudará a me aquecer um pouquinho.
Chapeuzinho Vermelho obedeceu e se enfiou embaixo das cobertas. Mas estranhou o aspecto da avó. Antes de tudo, estava muito peluda! Seria efeito da doença? E foi reparando:
— Oh, vovozinha, que braços longos você tem.
— São para abraçá-la melhor, minha querida menina!
— Oh, vovozinha, que olhos grandes você tem!
— São para enxergar também no escuro, minha menina!
— Oh, vovozinha, que orelhas compridas você tem!
— São para ouvir tudo, queridinha!
— Oh, vovozinha, que boca enorme você tem!
— É para engolir você melhor!!!
Assim dizendo, o lobo mau deu um pulo e, num movimento só, comeu a pobre Chapeuzinho Vermelho.
Mas um caçador estava passando por ali e ouviu tudo. Pegou um machado, abriu a barriga do lobo enquanto ele dormia e tirou de lá Chapeuzinho Vermelho e a vovó.

Imagens jpg, chapeuzinho vermelho.

24 de abril de 2012

Uma princesa de verdade. de Hans Christian Andersen

Era uma vez um príncipe que queria se casar com uma princesa, mas uma princesa de verdade, de sangue real meeeeesmo. Viajou pelo mundo inteiro, à procura da princesa dos seus sonhos, mas todas as que encontrava tinham algum defeito. Não é que faltassem princesas, não: havia de sobra, mas a dificuldade era saber se realmente eram de sangue real. E o príncipe retornou ao seu castelo, muito triste e desiludido, pois queria muito casar com uma princesa de verdade.
Uma noite desabou uma tempestade medonha. Chovia desabaladamente, com trovoadas, raios, relâmpagos. Um espetáculo tremendo! De repente bateram à porta do castelo, e o rei em pessoa foi atender, pois os criados estavam ocupados enxugando as salas cujas janelas foram abertas pela tempestade.
Era uma moça, que dizia ser uma princesa. Mas estava encharcada de tal maneira, os cabelos escorrendo, as roupas grudadas ao corpo, os sapatos quase desmanchando... que era difícil acreditar que fosse realmente uma princesa real.
A moça tanto afirmou que era uma princesa que a rainha pensou numa forma de provar se o que ela dizia era verdade.
Ordenou que sua criada de confiança empilhasse vinte colchões no quarto de hóspedes e colocou sob eles uma ervilha. Aquela seria a cama da “princesa”.
A moça estranhou a altura da cama, mas conseguiu, com a ajuda de uma escada, se deitar. No dia seguinte, a rainha perguntou como ela havia dormido.
— Oh! Não consegui dormir — respondeu a moça,
— havia algo duro na minha cama, e me deixou até manchas roxas no corpo!
O rei, a rainha e o príncipe se olharam com surpresa. A moça era realmente uma princesa! Só mesmo uma princesa verdadeira teria pele tão sensível para sentir um grão de ervilha sob vinte colchões!!!
O príncipe casou com a princesa, feliz da vida, e a ervilha foi enviada para um museu, e ainda deve estar por lá... Acredite se quiser, mas esta história realmente aconteceu!


23 de abril de 2012

A Cigarra e a Formiga, de H. C. Andersen.

Era uma vez uma cigarra que vivia saltitando e cantando pelo bosque, sem se preocupar com o futuro. Esbarrando numa formiguinha, que carregava uma folha pesada, perguntou:
- Ei, formiguinha, para que todo esse trabalho? O verão é para gente aproveitar! O verão é para gente se divertir!
- Não, não, não! Nós, formigas, não temos tempo para diversão. É preciso trabalhar agora para guardar comida para o inverno. Durante o verão, a cigarra continuou se divertindo e passeando por todo o bosque. Quando tinha fome, era só pegar uma folha e comer.
Um belo dia, passou de novo perto da formiguinha carregando outra pesada folha. A cigarra então aconselhou:
- Deixa esse trabalho para as outras! Vamos nos divertir. Vamos, formiguinha, vamos cantar! Vamos dançar!
A formiguinha gostou da sugestão. Ela resolveu ver a vida que a cigarra levava e ficou encantada. Resolveu viver também como sua amiga.
Mas, no dia seguinte, apareceu a rainha do formigueiro e, ao vê-la se divertindo, olhou feio para ela e ordenou que voltasse ao trabalho. Tinha terminado a vidinha boa.
A rainha das formigas falou então para a cigarra:
- Se não mudar de vida, no inverno você há de se arrepender, cigarra! Vai passar fome e frio.
A cigarra nem ligou, fez uma reverência para rainha e comentou:
- Hum!! O inverno ainda está longe, querida!
Para cigarra, o que importava era aproveitar a vida, e aproveitar o hoje, sem pensar no amanhã. Para que construir um abrigo? Para que armazenar alimento? Pura perda de tempo.
Certo dia o inverno chegou, e a cigarra começou a tiritar de frio. Sentia seu corpo gelado e não tinha o que comer. Desesperada, foi bater na casa da formiga.
Abrindo a porta, a formiga viu na sua frente a cigarra quase morta de frio.
Puxou-a para dentro, agasalhou-a e deu-lhe uma sopa bem quente e deliciosa.
Naquela hora, apareceu a rainha das formigas que disse à cigarra: - No mundo das formigas, todos trabalham e se você quiser ficar conosco, cumpra o seu dever: toque e cante para nós.
Para cigarra e paras formigas, aquele foi o inverno mais feliz das suas vidas.


20 de abril de 2012

O Patinho Feio, de Hans Christian Andersen

A mamãe pata tinha escolhido um lugar ideal para fazer seu ninho: um cantinho bem protegido, no meio da folhagem, perto do rio que contornava o velho castelo. Mais adiante estendiam-se o bosque e um lindo jardim florido. Naquele lugar sossegado, a pata agora aquecia pacientemente seus ovos. Por fim, após a longa espera, os ovos se abriram um após o outro, e das cascas rompidas surgiram, engraçadinhos e miúdos, os patinhas amarelos que, imediatamente, saltaram do ninho. Porém um dos ovos ainda não se abrira; era um ovo grande, e a pata pensou que não o chocara o suficiente. Impaciente, deu umas bicadas no ovão e ele começou a se romper. No entanto, em vez de um patinho amarelinho saiu uma ave cinzenta e desajeitada. Nem parecia um patinho. Para ter certeza de que o recém-nascido era um patinho, e não outra ave, a mãe-pata foi com ele até o rio e o obrigou a mergulhar junto com os outros. Quando viu que ele nadava com naturalidade e satisfação, suspirou aliviada. Era só um patinho muito, muito feio.
Tranqüilizada, levou sua numerosa família para conhecer os outros animais que viviam nos jardins do castelo.
Todos parabenizaram a pata: a sua ninhada era realmente bonita. Exceto um. O horroroso e desajeitado das penas cinzentas!
— É grande e sem graça! — falou o peru.
— Tem um ar abobalhado — comentaram as galinhas.
O porquinho nada disse, mas grunhiu com ar de desaprovação.
Nos dias que se seguiram, as coisas pioraram. Todos os bichos, inclusive os patinhos, perseguiam a criaturinha feia. A pata, que no princípio defendia aquela sua estranha cria, agora também sentia vergonha e não queria tê-lo em sua companhia.
O pobre patinho crescia só, malcuidado e desprezado. Sofria. As galinhas o bicavam a todo instante, os perus o perseguiam com ar ameaçador e até a empregada, que diariamente levava comida aos bichos, só pensava em enxotá-lo.
Um dia, desesperado, o patinho feio fugiu. Queria ficar longe de todos que o perseguiam. Caminhou, caminhou e chegou perto de um grande brejo, onde viviam alguns marrecos. Foi recebido com indiferença: ninguém ligou para ele. Mas não foi maltratado nem ridicularizado; para ele, que até agora só sofrera, isso já era o suficiente. Infelizmente, a fase tranqüila não durou muito. Numa certa madrugada, a quietude do brejo foi interrompida por um tumulto e vários disparos: tinham chegado os caçadores! Muitos marrequinhos perderam a vida. Por um milagre, o patinho feio conseguiu se salvar, escondendo-se no meio da mata.
Depois disso, o brejo já não oferecia segurança; por isso, assim que cessaram os disparos, o patinho fugiu de lá. Novamente caminhou, caminhou, procurando um lugar onde não sofresse. Ao entardecer chegou a uma cabana. A porta estava entreaberta, e ele conseguiu entrar sem ser notado. Lá dentro, cansado e tremendo de frio, se encolheu num cantinho e logo dormiu.
Na cabana morava uma velha, em companhia de um gato, especialista em caçar ratos, e de uma galinha, que todos os dias botava o seu ovinho. Na manhã seguinte, quando a dona da cabana viu o patinho dormindo no canto, ficou toda contente.
— Talvez seja uma patinha. Se for, cedo ou tarde botará ovos, e eu poderei preparar cremes, pudins e tortas, pois terei mais ovos. Estou com muita sorte! Mas o tempo passava, e nenhum ovo aparecia. A velha começou a perder a paciência. A galinha e o gato, que desde o começo não viam com bons olhos recém-chegado, foram ficando agressivos e briguentos. Mais uma vez, o coitadinho preferiu deixar a segurança da cabana e se aventurar pelo mundo. Caminhou, caminhou e achou um lugar tranqüilo perto de uma lagoa, onde parou.
Enquanto durou a boa estação, o verão, as coisas não foram muito mal. O patinho passava boa parte do tempo dentro da água e lá mesmo encontrava alimento suficiente. Mas chegou o outono. As folhas começaram a cair, bailando no ar e pousando no chão, formando um grande tapete amarelo. O céu se cobriu de nuvens ameaçadoras e o vento esfriava cada vez mais. Sozinho, triste e esfomeado, o patinho pensava, preocupado, no inverno que se aproximava.
Num final de tarde, viu surgir entre os arbustos um bando de grandes e lindíssimas aves. Tinham as plumas alvas, as asas grandes e um longo pescoço, delicado e sinuoso: eram cisnes, emigrando na direção de regiões quentes. Lançando estranhos sons, bateram as asas e levantaram vôo, bem alto. O patinho ficou encantado, olhando a revoada, até que ela desaparecesse no horizonte. Sentiu uma grande tristeza, como se tivesse perdido amigos muito queridos. Com o coração apertado, lançou-se na lagoa e nadou durante longo tempo. Não conseguia tirar o pensamento daquelas maravilhosas criaturas, graciosas e elegantes. Foi se sentindo mais feio, mais sozinho e mais infeliz do que nunca.
Naquele ano, o inverno chegou cedo e foi muito rigoroso. O patinho feio precisava nadar ininterruptamente, para que a água não congelasse em volta de seu corpo, criando uma armadilha mortal. Mas era uma luta contínua e sem esperança.
Um dia, exausto, permaneceu imóvel por tempo suficiente para ficar com as patas presas no gelo.
— Agora morrerei — pensou. — Assim, terá fim todo meu sofrimento. Fechou os olhos, e o último pensamento que teve antes de cair num sono parecido com a morte foi para as grandes aves brancas. Na manhã seguinte, bem cedo, um camponês que passava por aqueles lados viu o pobre patinho, já meio morto de frio. Quebrou o gelo com um pedaço de pau, libertou o pobrezinho e levou-o para sua casa. Lá o patinho foi alimentado e aquecido, recuperando um pouco de suas forças. Logo que deu sinais de vida, os filhos do camponês se animaram:
— Vamos fazê-lo voar!
— Vamos escondê-lo em algum lugar!
E seguravam o patinho, apertavam-no, esfregavam-no. Os meninos não tinham más intenções; mas o patinho, acostumado a ser maltratado, atormentado e ofendido, se assustou e tentou fugir. Fuga atrapalhada!
Caiu de cabeça num balde cheio de leite e, esperneando para sair, derrubou tudo. A mulher do camponês começou a gritar, e o pobre patinho se assustou ainda mais.
Acabou se enfiando no balde da manteiga, engordurando-se até os olhos e, finalmente se enfiou num saco de farinha, levantando uma poeira sem fim. br> A cozinha parecia um campo de batalha. Fora de si, a mulher do camponês pegara a vassoura e procurava golpear o patinho. As crianças corriam atrás do coitadinho, divertindo-se muito. Meio cego pela farinha, molhado de leite e engordurado de manteiga, esbarrando aqui e ali, o pobrezinho por sorte conseguiu afinal encontrar a porta e fugir, escapando da curiosidade das crianças e da fúria da mulher.
Ora esvoaçando, ora se arrastando na neve, ele se afastou da casa do camponês e somente parou quando lhe faltaram as forças. Nos meses seguintes, o patinho viveu num lago, se abrigando do gelo onde encontrava relva seca.
Finalmente, a primavera derrotou o inverno. Lá no alto, voavam muitas aves. Um dia, observando-as, o patinho sentiu um inexplicável e incontrolável desejo de voar. Abriu as asas, que tinham ficado grandes e robustas, e pairou no ar. Voou. Voou. Voou longamente, até que avistou um imenso jardim repleto de flores e de árvores; do meio das árvores saíram três aves brancas.
O patinho reconheceu as lindas aves que já vira antes, e se sentiu invadir por uma emoção estranha, como se fosse um grande amor por elas.
— Quero me aproximar dessas esplêndidas criaturas — murmurou. — Talvez me humilhem e me matem a bicadas, mas não importa. É melhor morrer perto delas do que continuar vivendo atormentado por todos.
Com um leve toque das asas, abaixou-se até o pequeno lago e pousou tranqüilamente na água.
— Podem matar-me, se quiserem — disse, resignado, o infeliz. E abaixou a cabeça, aguardando a morte. Ao fazer isso, viu a própria imagem refletida na água, e seu coração entristecido deu um pulo. O que via não era a criatura desengonçada, cinzenta e sem graça de outrora. Enxergava as penas brancas, as grandes asas e um pescoço longo e sinuoso. Ele era um cisne! Um cisne, como as aves que tanto admirava.
— Bem-vindo entre nós! — disseram-lhe os três cisnes, curvando os pescoços, em sinal de saudação. Aquele que num tempo distante tinha sido um patinho feio, humilhado, desprezado e atormentado se sentia agora tão feliz que se perguntava se não era um sonho! Mas, não! Não estava sonhando. Nadava em companhia de outros, com o coração cheio de felicidade. Mais tarde, chegaram ao jardim três meninos, para dar comida aos cisnes. O menorzinho disse, surpreso:
— Tem um cisne novo! E é o mais belo de todos! E correu para chamar os pais.
— É mesmo uma esplêndida criatura! — disseram os pais. E jogaram pedacinhos de biscoito e de bolo. Tímido diante de tantos elogios, o cisne escondeu a cabeça embaixo da asa. Talvez um outro, em seu lugar, tivesse ficado envaidecido. Mas não ele. Seu coração era muito bom, e ele sofrera muito, antes de alcançar a sonhada felicidade

16 de abril de 2012

O enigma do ferreiro e o rosto do rei

No tempo do imperador Frederico, havia um ferreiro que trabalhava o ano inteiro no seu ofício, sem guardar domingos, nem a Páscoa nem dias santos, por mais solene que fosse a festa. Trabalhava todos os dias até ganhar quatro soldos, mas depois disso não dava mais nenhuma martelada, mesmo que fosse da maior urgência o trabalho encomendado, e ainda que lhe pagassem muito bem. Um dia alguém o denunciou ao imperador por profanar os dias santificados, trabalhando como nos demais dias do ano. Frederico o convocou à sua presença, e perguntou se era certo o que lhe diziam. O ferreiro não negou, e então o rei perguntou:
— Qual o motivo que te leva a quebrar o preceito dos dias santificados?
— Senhor, para atender às minhas obrigações, tenho que ganhar quatro soldos todos os dias. Conseguido isso, termina para mim a jornada até o dia seguinte.
— E o que fazes com esses quatro soldos?
— Senhor, eu os divido em quatro partes iguais. Uma eu devolvo, faço doação de outra, jogo fora a terceira, e uma eu invisto na minha subsistência.
— Explica melhor isso.
— A doação, senhor, eu a faço pagando impostos. A devolução é devida ao meu pai, tão velho e pobre que já não pode ganhar o próprio sustento, pelo que ele me emprestou quando eu era ainda criancinha e não podia trabalhar. Desperdiço a outra parte dando-a à minha mulher, para os seus gastos, o que é o mesmo que jogar fora, pois ela não sabe fazer nada além de comer e beber. Invisto na minha subsistência o restante, quer dizer, na manutenção da minha casa.
O imperador pensou então: “Se o mandasse parar de fazer assim, eu o colocaria injustamente em muitos apertos. Mas vou impor a ele uma condição severa, e se não a cumprir, vai me pagar caro”. Disse então ao ferreiro:
— Vai com Deus! Mas a explicação da tua conduta, que me deste agora, não a podes contar a ninguém. Nem uma única palavra, antes de ver meu rosto cem vezes, sob pena de cem libras de multa.
Não era fácil para um simples ferreiro ver o rosto do rei umas poucas vezes, quanto mais cem, o que significaria para ele silêncio definitivo sobre o assunto.
No dia seguinte o imperador resolveu apresentar aos seus sábios um enigma, e pediu-lhes que explicassem o sentido oculto da moeda devolvida, da moeda doada, da moeda jogada fora e da moeda investida. Deu-lhes oito dias de prazo para a resposta.
Depois de muito discutirem e não acharem a solução, os sábios concluíram que o assunto devia guardar relação com a presença do ferreiro ante o imperador, mas nenhum deles sabia o que se passara entre os dois. Não achando outra saída, resolveram espionar o ferreiro, e compareceram às escondidas na oficina. Pediram-lhe que desse a explicação, mas o ladino se conservou hermético. Ofereceram-lhe então dinheiro em troca da informação. Depois de deliberar consigo mesmo, o ferreiro respondeu:
— Já que estais tão interessados, juntai cem libras de ouro, pois só mediante essa quantia eu poderei dar-lhes a explicação.
Convencidos de que seria tempo perdido insistir, e temendo que se esgotasse o prazo de oito dias, quotizaram-se e puseram em mãos do ferreiro as cem libras. Com toda calma ele foi pegando uma por uma das moedas, e as olhava com atenção na frente e no verso. Todas as moedas continham em relevo a efígie do imperador, sendo de um lado a figura eqüestre, e do outro a face. Terminado esse lento ritual, ele explicou aos sábios o caso, exatamente como o explicara ao imperador. Os sábios saíram dali contentes.
Esgotado o prazo de oito dias, apresentaram-se ao imperador e lhe deram a explicação pedida, deixando-o muito surpreso, pois tudo coincidia com as palavras do ferreiro. Suspeitou logo que ele tivesse dado com a língua nos dentes, e pensou: “Esses sábios não seriam capazes de descobrir sozinhos toda a explicação, e o devem ter ameaçado ou até açoitado para obtê-la. Vou chamá-lo, e agora ele vai ter de me pagar toda a dívida atrasada”. Mandou chamar o ferreiro, e lhe perguntou:
— Parece que, apesar da minha proibição, falaste mais do que era conveniente, revelando o segredo que eu te havia confiado. Agora vais ter de pagar amargamente a leviandade.
— Senhor, podeis dispor não só de mim, como também de todo o mundo para fazer o que vos agrada, por isso a vós me entrego como a um pai e senhor muito amado. Porém não creio ter infringido vossas ordens, que eram de guardar o segredo até conseguir ver a vossa face cem vezes. Por isso perderam tempo todos os que tentaram obter de mim o segredo antes de haver cumprido aquela condição. Mas depois que me apresentaram cem libras de ouro, e que na presença dos interessados eu contemplei vossa augusta face em cada uma delas, não tive dúvidas em contar-lhes o que sabia. Não me parece portanto que eu vos tenha ofendido. Além do mais, eu com isso me livrei da presença insistente e incômoda dos tais sábios.
— Vai com Deus, e que Ele te dê sorte, pois foste bastante mais inteligente do que todos os meus sábios juntos!

(Novellino, in R. Menéndez Pidal, Antología de cuentos – Labor, Barcelona, 1953)
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Sherazade e A História das mil e uma noites...

Há muitos séculos atrás no antigo Oriente, Sherazade, uma jovem de beleza e inteligência extraordinárias enfrentaria o poder do grande Sultão Shariman e conquistaria seu coração. Ela criaria uma das mais belas histórias de amor:
No início de nossa história, Shariman é o poderoso Sultão que reinava absoluto no Oriente. Possuía um belo palácio em Bagdá e seu irmão chamado Shazaman dominava a China.
Um dia, Shazaman enviou um mensageiro a Bagdá convidando Shariman para uma visita. Shariman que gostava de viajar e estava com saudade do irmão, prontamente aceitou.
Estava ele no meio do caminho, quando lembrou-se que deixara no palácio o presente que daria ao seu irmão. Retornou inesperadamente ao palácio e pode ver um dos súditos entrando no quarto de sua esposa. Enfurecido, Shariman apanhou a espada, e rasgando o véu que guardava a entrada do quarto dela surpreendeu os dois abraçados. Ordenou aos guardas que levassem o traidor para prisão e expulsou a rainha de Bagdá para sempre.
ShaShariman decidiu que não confiaria mais em nenhuma mulher. Para evitar traições, ele se casaria com uma jovem a cada noite. No dia seguinte, ao nascer do sol, ela iria embora do reino e não poderia mais voltar. Shariman encarregava o nobre Mustafá, seu Vizir, de escolher suas esposas. Várias jovens foram levadas, as famílias não podiam negar nada ao Sultão. Muitas porém fugia, para escapar do cruel destino. Chegou um dia que Mustafá não encontrou donzela para casar com o Sultão e voltou preocupado para casa.
O Vizir tinha duas lindas filhas: Sherazade e Denizade. Sherazade era mais velha, além de bela, era instruída nas artes e nas ciências. Havia ali do muitos livros e todas as tardes visitava a praça dos contadores de histórias: um lugar onde várias vem contar suas aventuras e descobertas.
Vendo seu pai infeliz perguntou o motivo de tanta tristeza. Quando o Vizir contou-lhe Sherazade disse:
- Pai, leve-me ao Sultão; serei sua esposa e terminarei com essa tragédia.
No dia seguinte Sherazade e seu pai foram ao encontro de Shariman. O sultão ficou admirado de sua beleza e casou-se com ela.
Quando chegou o momento esperado Sherazade olhou para o Sultão e falou:
- Deixe-me alegrar seu coração. Meu Senhor! Permite que lhe conte uma história?
Curioso, Shariman aceitou.
Sherazade com sua voz melodiosa começou a contar histórias de aventuras de reis, de viagens fantásticas de heróis e de mistérios. Contava uma história após a outra, deixando o Sultão maravilhado.
Sem que Sheramin percebesse, as horas passaram e o sol nasceu. Sherazade interrompeu uma história na melhor parte e disse:
- Já é de manhã, meu senhor!
O rei interessado na história, deixou Sherazader no palácio para mais uma noite.
E assim Sherazade fez o mesmo naquela noite, contou-lhe mais histórias e deixou a última por terminar. Sempre alegre, ora contava um drama, ora contava uma aventura, às vezes um enigma, em outras uma história real.
Procurava sempre a tenda dos contadores em busca de histórias para nunca repetir nenhuma. Todas as noites Sherazade tinha uma história nova para contar ao Sultão. Ela agiu dessa maneira por mil e uma noites seguidas. A jovem teve tanta dedicação e foi tão carinhosa, que acabou conquistando o coração do Sultão. Na milésima Segunda noite Shariman declarou:
- Não saberia viver sem suas histórias e seu amor, Sherazade,
Shrerazade sorriu e abraçou seu esposo. Sherazade E Shariman foram felizes por muitos e muitos anos.

Conto do livro As Mil e Uma Noite

14 de abril de 2012

Os Três Porquinhos, Conto de Grimm

Era uma vez, na época em que os animais falavam, três porquinhos que viviam felizes e despreocupados na casa da mãe.
A mãe era ótima, cozinhava, passava e fazia tudo pelos filhos. Porém, dois dos filhos não a ajudavam em nada e o terceiro sofria em ver sua mãe trabalhando sem parar.
Certo dia, a mãe chamou os porquinhos e disse:
__Queridos filhos, vocês já estão bem crescidos. Já é hora de terem mais responsabilidades para isso, é bom morarem sozinhos.
A mãe então preparou um lanche reforçado para seus filhos e dividiu entre os três suas economias para que pudessem comprar material e construírem uma casa.
Estava um bonito dia, ensolarado e brilhante. A mãe porca despediu-se dos seus filhos:
__Cuidem-se! Sejam sempre unidos! - desejou a mãe.
Os três porquinhos, então, partiram pela floresta em busca de um bom lugar para construírem a casa. Porém, no caminho começaram a discordar com relação ao material que usariam para construir o novo lar.
Cada porquinho queria usar um material diferente.
O primeiro porquinho, um dos preguiçosos foi logo dizendo:
__ Não quero ter muito trabalho! Dá para construir uma boa casa com um monte de palha e ainda sobra dinheiro para comprar outras coisas.
O porquinho mais sábio advertiu:
__ Uma casa de palha não é nada segura.
O outro porquinho preguiçoso, o irmão do meio, também deu seu palpite:
__ Prefiro uma casa de madeira, é mais resistente e muito prática. Quero ter muito tempo para descansar e brincar.
__ Uma casa toda de madeira também não é segura - comentou o mais velho- Como você vai se proteger do frio? E se um lobo aparecer, como vai se proteger?
__ Eu nunca vi um lobo por essas bandas e, se fizer frio, acendo uma fogueira para me aquecer! - respondeu o irmão do meio- E você, o que pretende fazer, vai brincar conosco depois da construção da casa?
__Já que cada um vai fazer uma casa, eu farei uma casa de tijolos, que é resistente. Só quando acabar é que poderei brincar.
 – Respondeu o mais velho.
O porquinho mais velho, o trabalhador, pensava na segurança e no conforto do novo lar.
Os irmãos mais novos preocupavam-se em não gastar tempo trabalhando.
__Não vamos enfrentar nenhum perigo para ter a necessidade de construir uma casa resistente. - Disse um dos preguiçosos.
Cada porquinho escolheu um canto da floresta para construir as respectivas casas. Contudo, as casas seriam próximas.
O Porquinho da casa de palha, comprou a palha e em poucos minutos construiu sua morada. Já estava descansando quando o irmão do meio, que havia construído a casa de madeira chegou chamando-o para ir ver a sua casa.
Ainda era manhã quando os dois porquinhos se dirigiram para a casa do porquinho mais velho, que construía com tijolos sua morada.
__Nossa! Você ainda não acabou! Não está nem na metade! Nós agora vamos almoçar e depois brincar. – disse irônico, o porquinho do meio.
O porquinho mais velho porém não ligou para os comentários, nem par a as risadinhas, continuou a trabalhar, preparava o cimento e montava as paredes de tijolos. Após três dias de trabalho intenso, a casa de tijolos estava pronta, e era linda!
Os dias foram passando, até que um lobo percebeu que havia porquinhos morando naquela parte da floresta. O Lobo sentiu sua barriga roncar de fome, só pensava em comer os porquinhos.
Foi então bater na porta do porquinho mais novo, o da casa de palha. O porquinho antes de abrir a porta olhou pela janela e avistando o lobo começou a tremer de medo.
O Lobo bateu mais uma vez, o porquinho então, resolveu tentar intimidar o lobo:
__ Vá embora! Só abrirei a porta para o meu pai, o grande leão!- mentiu o porquinho cheio de medo.
__ Leão é? Não sabia que leão era pai de porquinho. Abra já essa porta. – Disse o lobo com um grito assustador.
O porquinho continuou quieto, tremendo de medo.
__Se você não abrir por bem, abrirei à força. Eu ou soprar, vou soprar muito forte e sua casa irá voar.
O porquinho ficou desesperado, mas continuou resistindo. Até que o lobo soprou um a vez e nada aconteceu, soprou novamente e da palha da casinha nada restou, a casa voou pelos ares. O porquinho desesperado correu em direção à casinha de madeira do seu irmão.
O lobo correu atrás. Chagando lá, o irmão do meio estava sentado na varanda da casinha.
__Corre, corre entra dentro da casa! O lobo vem vindo! – gritou desesperado, correndo o porquinho mais novo. Os dois porquinhos entraram bem a tempo na casa, o lobo chegou logo atrás batendo com força na porta. Os porquinhos tremiam de medo. O lobo então bateu na porta dizendo:
__Porquinhos, deixem eu entrar só um pouquinho! 
__ De forma alguma Seu Lobo, vá embora e nos deixe em paz.- disseram os porquinhos.
__ Então eu vou soprar e soprar e farei a casinha voar. O lobo então furioso e esfomeado, encheu o peito de ar e soprou forte a casinha de madeira que não agüentou e caiu. Os porquinhos aproveitaram a falta de fôlego do lobo e correram para a casinha do irmão mais velho. Chegando lá pediram ajuda ao mesmo.
__Entrem, deixem esse lobo comigo!- disse confiante o porquinho mais velho. Logo o lobo chegou e tornou a atormentá-los:
__ Porquinhos, porquinhos, deixem-me entrar, é só um pouquinho!
__Pode esperar sentado seu lobo mentiroso.- respondeu o porquinho mais velho.
__ Já que é assim, preparem-se para correr. Essa casa em poucos minutos irá voar! O lobo encheu seus pulmões de ar e soprou a casinha de tijolos que nada sofreu. Soprou novamente mais forte e nada. Resolveu então se jogar contra a casa na tentativa de derrubá-la. Mas nada abalava a sólida casa.
O lobo resolveu então voltar para a sua toca e descansar até o dia seguinte.
Os porquinhos assistiram a tudo pela janela do andar superior da casa. Os dois mais novos comemoraram quando perceberam que o lobo foi embora.
__ Calma , não comemorem ainda! Esse lobo é muito esperto, ele não desistirá antes de aprende ruma lição.- Advertiu o porquinho mais velho.
No dia seguinte bem cedo o lobo estava de volta à casa de tijolos. Disfarçado de vendedor de frutas.
__ Quem quer comprar frutas fresquinhas?- gritava o lobo se aproximando da casa de tijolos.
Os dois porquinhos mais novos ficaram com muita vontade de comer maçãs e iam abrir a porta quando o irmão mais velho entrou na frente deles e disse: -
__ Nunca passou ninguém vendendo nada por aqui antes, não é suspeito que na manhã seguinte do aparecimento do lobo, surja um vendedor?
Os irmãos acreditaram que era realmente um vendedor, mas resolveram esperar mais um pouco.
O lobo disfarçado bateu novamente na porta e perguntou:
__ Frutas fresquinhas, quem vai querer?
Os porquinhos responderam:
__ Não, obrigado.
O lobo insistiu:
Tome peguem três sem pagar nada, é um presente.
__ Muito obrigado, mas não queremos, temos muitas frutas aqui.
O lobo furioso se revelou:
__ Abram logo, poupo um de vocês!
Os porquinhos nada responderam e ficaram aliviados por não terem caído na mentira do falso vendedor.
De repente ouviram um barulho no teto. O lobo havia encostado uma escada e estava subindo no telhado.
Imediatamente o porquinho mais velho aumentou o fogo da lareira, na qual cozinhavam uma sopa de legumes.
O lobo se jogou dentro da chaminé, na intenção de surpreender os porquinho entrando pela lareira. Foi quando ele caiu bem dentro do caldeirão de sopa fervendo.
___AUUUUUUU!- Uivou o lobo de dor, saiu correndo em disparada em direção à porta e nunca mais foi visto por aquelas terras.
Os três porquinhos, pois, decidiram morar juntos daquele dia em diante. Os mais novos concordaram que precisavam trabalhar além de descansar e brincar.
Pouco tempo depois, a mãe dos porquinhos não agüentando as saudades, foi morar com os filhos.
Todos viveram felizes e em harmonia na linda casinha de tijolos.


A estranha máquina extraviada, de J.J. Veiga


Você sempre pergunta pelas novidades daqui deste sertão, e finalmente posso lhe contar uma importante. Fique o compadre sabendo que agora temos aqui uma máquina imponente, que está entusiasmando todo o mundo. Desde que ela chegou - não me lembro quando, não sou muito bom em lembrar datas - quase não temos falado em outra coisa; e da maneira que o povo aqui se apaixona até pelos assuntos mais infantis, é de admirar que ninguém tenha brigado ainda por causa dela, a não ser os políticos.
A máquina chegou uma tarde, quando as famílias estavam jantando ou acabando de jantar, e foi descarregada na frente da Prefeitura. Com os gritos dos choferes e seus ajudantes (a máquina veio em dois ou três caminhões) muita gente cancelou a sobremesa ou o café e foi ver que algazarra era aquela. Como geralmente acontece nessas ocasiões, os homens estavam mal-humorados e não quiseram dar explicações, esbarravam propositalmente nos curiosos, pisavam-lhes os pés e não pediam desculpa, jogavam pontas de cordas sujas de graxa por cima deles, quem não quisesse se sujar ou se machucar que saísse do caminho.
Descarregadas as várias partes da máquina, foram elas cobertas com encerados e os homens entraram num botequim do largo para comer e beber. Muita gente se amontoou na porta mas ninguém teve coragem de se aproximar dos estranhos porque um deles, percebendo essa intenção nos curiosos, de vez em quando enchia a boca de cerveja e esguichava na direção da porta. Atribuímos essa esquiva ao cansaço e à fome deles e deixamos as tentativas de aproximação para o dia seguinte; mas quando os procuramos de manhã cedo na pensão, soubemos que eles tinham montado mais ou menos a máquina durante a noite e viajado de madrugada.
A máquina ficou ao relento, sem que ninguém soubesse quem a encomendou nem para que servia. E claro que cada qual dava o seu palpite, e cada palpite era tão bom quanto outro.
As crianças, que não são de respeitar mistério, como você sabe, trataram de aproveitar a novidade. Sem pedir licença a ninguém (e a quem iam pedir?), retiraram a lona e foram subindo em bando pela máquina acima - até hoje ainda sobem, brincam de esconder entre os cilindros e colunas, embaraçam-se nos dentes das engrenagens e fazem um berreiro dos diabos até que apareça alguém para soltá-las; não adiantam ralhos, castigos, pancadas; as crianças simplesmente se apaixonaram pela tal máquina.
Contrariando a opinião de certas pessoas que não quiseram se entusiasmar, e garantiram que em poucos dias a novidade passaria e a ferrugem tomaria conta do metal, o interesse do povo ainda não diminuiu. Ninguém passa pelo largo sem ainda parar diante da máquina, e de cada vez há um detalhe novo a notar. Até as velhinhas de igreja, que passam de madrugada e de noitinha, tossindo e rezando, viram o rosto para o lado da máquina e fazem uma curvatura discreta, só faltam se benzer. Homens abrutalhados, como aquele Clodoaldo seu conhecido, que se exibe derrubando boi pelos chifres no pátio do mercado, tratam a máquina com respeito; se um ou outro agarra uma alavanca e sacode com força, ou larga um pontapé numa das colunas, vê-se logo que são bravatas feitas por honra da firma, para manter fama de corajoso.

Ninguém sabe mesmo quem encomendou a máquina. O prefeito jura que não foi ele, e diz que consultou o arquivo e nele não encontrou nenhum documento autorizando a transação. Mesmo assim não quis lavar as mãos, e de certa forma encampou a compra quando designou um funcionário para zelar pela máquina.
Devemos reconhecer - aliás todos reconhecem - que esse funcionário tem dado boa conta do recado. A qualquer hora do dia, e às vezes também de noite, podemos vê-lo trepado lá por cima espanando cada vão, cada engrenagem, desaparecendo aqui para reaparecer ali, assoviando ou cantando, ativo e incansável. Duas vezes por semana ele aplica kaol nas partes de metal dourado, esfrega, sua, descansa, esfrega de novo - e a máquina fica faiscando como jóia.
Estamos tão habituados com a presença da máquina ali no largo, que se um dia ela desabasse, ou se alguém de outra cidade viesse buscá-la, provando com documentos que tinha direito, eu nem sei o que aconteceria, nem quero pensar. Ela é o nosso orgulho, e não pense que exagero. Ainda não sabemos para que ela serve, mas isso já não tem maior importância. Fique sabendo que temos recebido delegações de outras cidades, do estado e de fora, que vêm aqui para ver se conseguem comprá-la. Chegam como quem não quer nada, visitam o prefeito, elogiam a cidade, rodeiam, negaceiam, abrem o jogo: por quanto cederíamos a máquina. Felizmente o prefeito é de confiança e é esperto, não cai na conversa macia.
Em todas as datas cívicas a máquina é agora uma parte importante das festividades. Você se lembra que antigamente os feriados eram comemorados no coreto ou no campo de futebol, mas hoje tudo se passa ao pé da máquina. Em tempo de eleição todos os candidatos querem fazer seus comícios à sombra dela, e como isso não é possível, alguém tem de sobrar, nem todos se conformam e sempre surgem conflitos. Felizmente a máquina ainda não foi danificada nesses esparramos, e espero que não seja.
A única pessoa que ainda não rendeu homenagem à máquina é o vigário, mas você sabe como ele é ranzinza, e hoje mais ainda, com a idade. Em todo caso, ainda não tentou nada contra ela, e ai dele. Enquanto ficar nas censuras veladas, vamos tolerando; é um direito que ele tem. Sei que ele andou falando em castigo, mas ninguém se impressionou.
Até agora o único acidente de certa gravidade que tivemos foi quando um caixeiro da loja do velho Adudes (aquele velhinho espigado que passa brilhantina no bigode, se lembra?) prendeu a perna numa engrenagem da máquina, isso por culpa dele mesmo. O rapaz andou bebendo em uma serenata, e em vez de ir para casa achou de dormir em cima da máquina. Não se sabe como, ele subiu à plataforma mais alta, de madrugada rolou de lá, caiu em cima de uma engrenagem e com o peso acionou as rodas. Os gritos acordaram a cidade, correu gente para verificar a causa, foi preciso arranjar uns barrotes e labancas para desandar as rodas que estavam mordendo a perna do rapaz. Também dessa vez a máquina nada sofreu, felizmente. Sem a perna e sem o emprego, o imprudente rapaz ajuda na conservação da máquina, cuidando das partes mais baixas.
Já existe aqui um movimento para declarar a máquina monumento municipal - por enquanto. O vigário, como sempre, está contra; quer sabe a que seria dedicado o monumento. Você já viu que homem mais azedo?
Dizem que a máquina já tem feito até milagre, mas isso - aqui para nós - eu acho que é exagero de gente supersticiosa, e prefiro não ficar falando no assunto. Eu - e creio que também a grande maioria dos munícipes - não espero dela nada em particular; para mim basta que ela fique onde está, nos alegrando, nos inspirando, nos consolando.
O meu receio é que, quando menos esperarmos, desembarque aqui um moço de fora, desses despachados, que entendem de tudo, olhe a máquina por fora, por dentro, pense um pouco e comece a explicar a finalidade dela, e para mostrar que é habilidoso (eles são sempre muito habilidosos), peça na garagem um jogo de ferramentas, e sem ligar a nossos protestos se meta por baixo da máquina e desande a apertar, martelar, engatar, e a máquina comece a trabalhar. Se isso acontecer, estará quebrado o encanto e não existirá mais máquina.

Conto de José J. Veiga

13 de abril de 2012

Aladim e a lâmpada maravilhosa

Num reino da China, vivia um alfaiate muito pobre chamado Mustafá. Seu filho Aladim, um menino teimoso e desobediente, passava o dia todo nas ruas e praças da cidade. Com a morte do pai, Aladim se sentiu livre, não quis aprender uma profissão e assim viveu até os quinze anos.
Um dia, Aladim brincava numa praça com outros meninos quando chegou um estrangeiro e começou a observá-lo atentamente. Era um mago africano. Chamou o menino e lhe perguntou:
– Meu filho, seu pai não se chama Mustafá e é alfaiate?
– Sim, senhor, mas morreu há muito tempo – respondeu Aladim.
O mago, então, abraçou o menino derramando muitas lágrimas e dizendo:
– Ai, meu filho! Eu sou seu tio. Faz muito tempo que estou viajando na esperança de reencontrar meu irmão, mas você me diz que ele morreu! Só tenho um consolo: reconheço os traços de meu querido irmão em você e foi por isso que parei para olhá-lo.
Depois disso, o mago perguntou onde a mãe de Aladim morava e lhe deu um punhado de moedas para que o menino as entregasse a ela. Quando Aladim chegou a casa, contou o que acontecera e a mãe ficou espantada, pois não se lembrava de que o marido tivesse irmão ainda vivo.
No dia seguinte, Aladim brincava com outros meninos, quando de novo o mago se aproximou e lhe deu duas moedas de ouro, dizendo:
– Conte a sua mãe que esta noite eu irei visitá-la e que ela deve preparar um bom jantar, pois comeremos juntos.
A mãe de Aladim fez o que pôde para preparar um ótimo jantar. À noite, bateram à porta. Era o mago, que trazia vinho e muitas frutas. Pediu que a mulher lhe mostrasse onde Mustafá costumava se sentar e, chorando, beijou o lugar. Então, disse:
– Não se espante por não me ter visto desde que se casou com meu irmão Mustafá. Faz quarenta anos que eu deixei esta cidade e viajei por vários países até me estabelecer na África. Mas recentemente me deu uma grande vontade de rever meu querido irmão! Nada me deixou mais aflito do que a notícia de sua morte, mas me consolo vendo os traços dele nesse menino que é seu filho.
A mãe de Aladim contou, então, chorando, que o rapaz não queria saber de aprender uma profissão e vivia pelas ruas da cidade como um vagabundo. Um dia, teria de mandar que ele fosse buscar seu sustento em outra parte! Ao ouvir as queixas da mãe, o mago prometeu montar para o rapaz uma bela loja, cheia de tecidos finos, para que Aladim pudesse viver honestamente como comerciante.
Aladim ficou muito contente com aquela ideia, afinal tinha percebido que os comerciantes estavam sempre bem vestidos e eram muito estimados por todos. Depois dessa proposta, a mãe de Aladim não teve mais dúvidas de que aquele homem que se interessava pelo futuro do filho era mesmo seu tio.
Na manhã seguinte, o mago voltou à casa de Aladim. Levou o menino a uma loja fina e deixou que ele escolhesse a roupa que mais lhe agradasse. Depois, andaram pelas lojas e lugares mais luxuosos da cidade. Ao se despedir de mãe e filho, o mago disse:
– Amanhã, sexta-feira, as lojas estarão fechadas e não poderemos, por isso, alugar uma para Aladim, como eu pretendia fazer. Mas passearemos pelos jardins da cidade, onde as pessoas elegantes se encontram.
Na manhã seguinte, Aladim se levantou muito cedo e esperou, impaciente, o tio. Não cabia em si de alegria. Ao deixarem a casa, o mago africano lhe disse:
– Meu filho, hoje eu lhe mostrarei coisas belíssimas!
O mago conduziu Aladim para os arredores da cidade; no caminho, viram lindos palácios. E foram penetrando cada vez mais no campo até chegarem perto das montanhas. Aladim ficou muito cansado: ele jamais caminhara tanto!
– Coragem, sobrinho! Você verá um jardim que é mais belo do que todos quantos viu até agora. Já já chegaremos – disse o mago.  LEIA MAIS, clicando na frase abaixo

Aladim, então, foi levado ainda mais longe. Por fim, chegaram a um lugar situado entre dois montes. O mago pediu que o menino juntasse uma grande quantidade de gravetos e com eles fez uma fogueira. Na lenha que queimava jogou um perfume muito forte. Levantou-se, nesse momento, uma grande nuvem de fumaça e o mago pronunciou certas palavras mágicas que Aladim não conseguiu compreender.
De repente, a terra tremeu e se abriu diante dos dois, deixando ver uma pedra com uma argola de bronze no meio. Aladim quis fugir, mas o mago o deteve e lhe deu um violento tapa no rosto. Depois, vendo o menino chorar e se lamentar, disse:
– Não tenha medo. Obedeça-me e tudo sairá bem. Você será recompensado. Embaixo desta pedra, há um tesouro que fará de você o homem mais rico do mundo. E só você poderia tocar esta pedra e erguê-la. Eu não posso fazer isso. Venha, segure a argola, pronunciando o nome de seu pai e de seu avô, e levante a pedra.
Aladim obedeceu. Ao erguer a pedra, viu-se aparecer uma caverna e uma escada que levava para debaixo da terra. O mago fez estas recomendações ao menino:
– Meu filho, escute bem o que eu vou lhe dizer. Desça por esta escada. No final dela, você verá uma porta aberta. Entre. Você passará por três grandes salas. Em cada uma delas, verá quatro grandes vasos de bronze cheios de ouro e prata. Mas não toque neles! Passe pelas três salas sem parar. Cuidado para não tocar nas paredes: isso provocaria sua morte. No fim da terceira sala, há uma porta que dá acesso a um jardim. Atravesse esse jardim e você chegará a uma escada de cinqüenta degraus. Ao subir, estará num terraço onde verá uma lâmpada acesa. Apague-a e traga-a para mim. Pegue as frutas que quiser das árvores do jardim.
O mago, então, tirou do dedo um anel e o deu a Aladim, dizendo que ele o protegeria se algo de ruim acontecesse. Aladim fez como o mago lhe recomendara: desceu à caverna, atravessou as salas, subiu a escada e pegou a lâmpada. Depois, parou no jardim.
Os frutos das árvores que ali estavam brilhavam; havia-os de todas as cores; os brancos eram, na verdade, pérolas; os transparentes, diamantes; os vermelhos, rubis; os verdes, esmeraldas; os violetas, ametistas, e assim por diante. Aladim, que não sabia o valor daquelas pedras preciosas, ficou decepcionado, pois esperava encontrar figos, uvas e outras frutas comuns na China. Em todo caso, encheu os bolsos com aquelas pedras coloridas que para ele não tinham valor. Depois, voltou até a entrada da caverna, onde o mago o esperava com a maior impaciência.
Ao vê-lo, Aladim disse:
– Tio, por favor, estenda a mão para me ajudar a subir!
– Antes me passe a lâmpada para que ela não atrapalhe você – respondeu o mago.
Aladim, porém, respondeu que só lhe daria a lâmpada quando tivesse saído da caverna. O mago, irritado, lançou mais perfume na fogueira e pronunciou palavras mágicas. Nisso, a pedra que servia de porta para a caverna voltou a seu lugar, deixando Aladim preso embaixo da terra!
O suposto tio de Aladim era, na verdade, conforme já dissemos, um mago africano que, depois de investigar muito, descobrira a existência da lâmpada capaz de tornar seu dono o homem mais poderoso do mundo. Descobrira que o objeto estava embaixo da terra no centro da China. Mas ele mesmo não podia entrar ali nem pegar a lâmpada, e por isso decidira usar Aladim, que lhe pareceu útil aos seus objetivos. Quando viu que seus planos deram errado, decidiu retornar à África.
Ao se ver enterrado vivo, Aladim entrou em desespero: gritou sem parar pelo tio, prometendo entregar-lhe a lâmpada. Chorava em meio à escuridão, julgando que seu fim tinha chegado. Ficou dois dias assim, sem comer nem beber. No terceiro dia, ao erguer as mãos para dirigir suas preces a Deus, sem querer acabou esfregando o anel que o mago lhe dera. De repente, como que surgindo das profundezas da terra, apareceu diante dele um gênio enorme, com um aspecto terrível, e disse:
– O que deseja? Estou pronto para obedecer! Sou escravo de quem possui o anel.
– Seja você quem for, faça-me sair deste lugar! – disse Aladim.
Bastou dizer essas palavras e a terra se abriu; Aladim num segundo já estava de novo no lugar exato para onde o mago o tinha levado. O menino suspirou aliviado, agradeceu ao céu e tomou o caminho de volta para a cidade. Chegou a sua casa muito cansado e fraco pelo jejum de três dias. A mãe preparou para o filho a comida que tinha em casa. Aladim comeu e bebeu, depois contou à mãe tudo o que tinha acontecido.
Naquela noite Aladim dormiu profundamente, pois passara acordado aqueles três dias embaixo da terra. Acordou bem cedo e disse à mãe que estava com fome.
– Ai, meu filho! – respondeu a mãe, não tenho nem um pedacinho de pão para lhe dar! Mas fiei um pouco de algodão e vou ver se consigo vendê-lo para poder comprar pão e algo para o nosso almoço.
– Minha mãe, – disse Aladim – me dê a lâmpada que eu trouxe ontem. Vou vendê-la e conseguir algum dinheiro para o dia de hoje.
A mãe foi buscar a lâmpada, que estava um pouco suja. Então, trouxe água e areia para limpá-la. Quando a esfregou, eis que um gênio, de tamanho gigantesco e de aspecto horrível, apareceu à sua frente e disse com voz de trovão:
– O que deseja? Estou pronto para lhe obedecer como escravo que sou de quem possui a lâmpada!
A mãe de Aladim desmaiou. Aladim tomou a lâmpada na mão e ordenou:
– Estou com fome, traga-me algo para comer!
O gênio se retirou e voltou logo depois com uma bandeja de prata; em cima dela, havia doze pratos também de prata cheios dos quitutes mais saborosos, além de vinho e pão. Colocou tudo sobre a mesa e desapareceu.
Quando a mãe de Aladim se recuperou, ficou espantada com o que viu. O filho insistiu para que fossem comer, depois ele lhe contaria o que tinha acontecido. Puseram-se à mesa e comeram com muito apetite. Era seu café da manhã, mas a comida que o gênio trouxera também foi suficiente para o almoço, o jantar e mais duas refeições do dia seguinte. Quando a mãe quis saber como aquilo tudo viera parar em sua casa, Aladim contou o que ocorrera. Disse que aquele gênio da lâmpada era completamente diferente do gênio do anel, que ele vira na caverna.
– Ai, meu filho, é melhor dar um fim na lâmpada ou no anel em vez de correr de novo o risco de morrer de medo diante desses gênios! Gênios são demônios, como dizia o nosso profeta Maomé!
Mas Aladim convenceu sua mãe da necessidade de guardar o anel e a lâmpada. No dia seguinte, nada havia para comer. Aladim colocou um dos pratos de prata embaixo da roupa e saiu para vendê-lo.Dirigiu-se a um mercador muito esperto, que resolveu enganar o menino. Ele percebera que Aladim não tinha a menor idéia de como era valioso aquele objeto. Deu-lhe uma moeda de ouro. Com ela, o menino comprou pão, dando o troco a sua mãe, para que ela comprasse comida. E assim foram vivendo; quando acabavam os mantimentos, Aladim vendia um prato para o mercador. Depois que os pratos acabaram, vendeu a bandeja, recebendo por ela dez moedas de ouro.
Quando não havia mais moedas, Aladim recorreu à lâmpada. Esfregou-a e viu surgir o gênio. De novo, Aladim pediu algo para comer, e o gênio providenciou as mesmas coisas que da primeira vez. A história se repetiu. Quando só restaram os objetos de prata, Aladim resolveu vender um dos pratos. Mas dessa vez topou com um ourives, um senhor honesto que mostrou a Aladim quanto valia realmente o prato: setenta e duas moedas de ouro!
Daquele momento em diante, Aladim só vendeu os objetos para aquele senhor. E assim mãe e filho iam vivendo: recorriam à lâmpada, mas viviam modestamente.
Passaram-se muitos anos. Aladim descobriu que as pedras que trouxera da caverna não eram vidro pintado, como imaginava, mas pedras preciosas valiosíssimas.
Um dia, Aladim passeava pela cidade, quando escutou alguém anunciar a ordem do sultão: todas as lojas e as portas das casas deveriam ser fechadas, todos deveriam ir para dentro de suas casas e lá permanecer para que Badr al-Budur, a filha do sultão, pudesse ir ao banho e retornar ao palácio.
Desejando ver o rosto da moça, Aladim se escondeu atrás da porta dos banhos. Quando a filha do sultão chegou perto da porta, tirou o véu, e Aladim pôde ver seu rosto através de uma fresta. Era a primeira vez em sua vida que Aladim via uma mulher sem véu que não sua mãe. Ficou encantado com aquela visão. Badr al-Budur era linda; tinha olhos grandes e muito vivos, nariz e boca bem proporcionados; em resumo, todo seu rosto era perfeito. Aladim voltou para casa triste e perturbado e se deixou cair no sofá, pensando somente na princesa.
No dia seguinte, contou à mãe o que tinha visto: a jóia mais preciosa do mundo, Badr al-Budur:
– É por isso que você me viu tão triste ontem, minha mãe. Estou tão apaixonado pela princesa que não vou ter sossego enquanto não a pedir em casamento.
Ao ouvir as palavras do filho, a mãe de Aladim caiu na gargalhada, achando que aquela idéia não tinha pé nem cabeça. Aladim perdera o juízo? Esquecera que era filho de um alfaiate? Através de quem ele ousaria pedir ao sultão a mão de sua filha em casamento?
– Através de você, minha mãe – respondeu Aladim. Não mudarei de idéia. Não me negue este favor, se não quiser ver seu filho morto.
A mãe de Aladim tentou em vão convencê-lo a desistir da idéia: a beleza da princesa tinha provocado uma emoção muito forte no coração do filho. Lembrou, porém, que era costume oferecer presentes ao sultão quando se ia pedir-lhe alguma coisa. Ora, que presente à altura do pedido seu filho poderia oferecer? Afinal, ele queria a mão da própria filha do sultão! Aladim escutou pacientemente; depois, mostrou-lhe as pedras preciosas que ele, quando menino, tomara por vidro sem valor. Vistas à luz do dia, brilharam intensamente, enchendo os dois de admiração. Aquele era um presente à altura.
No dia seguinte, Aladim acordou cedo e, impaciente, foi despertar a mãe para que ela fosse até o palácio participar da audiência com o sultão. Ela se vestiu rapidamente, colocou as pedras num vaso de porcelana e partiu. Mas só conseguiu ser recebida muitos dias depois. O grão-vizir a levou até o sultão. Quando o soberano viu as pedras preciosas, tão perfeitas e brilhantes, ficou espantado:
– Que belo presente! Nunca vi nada mais perfeito e valioso! Este presente é digno de minha filha.
Mas seu filho deve esperar mais três meses e depois voltar a fazer o pedido! Aladim ficou desconsolado com a resposta, mas não desistiu. Três meses depois, sua mãe voltava a falar com o sultão, que já se havia esquecido totalmente daquele primeiro encontro. O grão-vizir o aconselhou a pedir pelo seu consentimento um preço tão alto que aquele desconhecido não conseguisse pagar; assim, ele desistiria de proposta tão insensata. O sultão disse à mãe de Aladim:
– Minha senhora, promessa é promessa. Mas eu não posso dar minha filha em casamento sem saber se ela será recompensada por isso e terá uma vida confortável. Assim, concedo a mão dela desde que seu filho me traga quarenta bandejas de ouro maciço cheias daquelas pedras preciosas que vocês me deram da última vez. Elas devem ser carregadas por quarenta escravos negros conduzidos por quarenta escravos brancos, todos vestidos luxuosamente. Eis as condições!
Quando a mãe lhe contou as exigências do sultão, Aladim esfregou a lâmpada e deu ordens para que o gênio providenciasse tudo o que o soberano queria. No mesmo dia, lá se foram os escravos, vestidos como reis, em direção ao palácio; à sua passagem, a multidão parava para olhá-los com espanto e admiração.
Quando chegaram diante do sultão, a mãe de Aladim dirigiu-lhe a palavra:
– Senhor, meu filho Aladim sabe que estes presentes não estão à altura da princesa, mas espera que eles agradem ao sultão e sua filha.
Vendo tamanhas riquezas e a rapidez com que Aladim conseguira atender suas exigências, o rei não teve mais dúvidas e prometeu a mão da filha.
Quando soube da notícia, Aladim pediu ao gênio da lâmpada que o vestisse como um rei e assim se dirigiu ao palácio. Seu aspecto e suas atitudes causaram admiração geral. Mas, quando o sultão pediu que Aladim permanecesse no palácio para que a cerimônia de casamento fosse realizada naquele mesmo dia, o rapaz recusou:
– Antes preciso construir um palácio digno de receber a princesa. Peço a Vossa Alteza que me conceda um terreno para que eu erga nele uma construção à altura de vossa filha.
Mal chegou a sua casa, Aladim fez surgir o gênio e pediu que ele erguesse no menor tempo possível um palácio magnífico em frente ao do sultão. O sol se escondia no horizonte. Na manhã seguinte, o gênio disse a Aladim que o palácio estava pronto. Era magnífico, coberto de ouro, prata e pedras preciosas, luxuoso como nenhum outro jamais tinha havido. A notícia daquela maravilha se espalhou rapidamente. Ninguém conseguia compreender como uma construção tão magnífica surgira de um dia para o outro.
Finalmente, a princesa Badr al-Budur e Aladim se casaram. O pai da moça não cansava de admirar a beleza do palácio e as qualidades de Aladim.
Mas eis que alguns anos depois o mago africano, que sem querer tornara possível a felicidade de Aladim, voltou a pensar nele. Com seus instrumentos mágicos, conseguiu descobrir que, em vez de morto embaixo da terra, o rapaz estava bem vivo, casado com uma princesa, amado e respeitado por todos. Ele havia descoberto o segredo da lâmpada! Furioso, o mago jurou vingar-se. Imediatamente, partiu em viagem e logo chegou ao reino da China, onde morava Aladim. Ali informou-se sobre ele e seu palácio, decidido a fazer de tudo para recuperar a lâmpada.
Por infelicidade, Aladim tinha deixado o palácio para caçar e permaneceria vários dias longe de casa.
– Está na hora de agir! – disse o mago ao saber da ausência de Aladim.
Depois se dirigiu a um fabricante de lâmpadas e comprou uma dúzia, brilhantes de tão novas que eram. Colocou-as num cesto e se dirigiu ao palácio de Aladim. Por ali, pôs-se a anunciar repetidamente, andando de um lado para o outro:
– Quem quer trocar lâmpadas velhas por novas?
Todos os que o viam, pensavam que se tratava de um doido. As crianças zombavam dele. Ouvindo o barulho, a princesa mandou que uma escrava fosse ver o que estava acontecendo.
– Princesa, – disse a escrava, – está aqui na frente um doido com um cesto cheio de lâmpadas novas em folha. Imagine só: em vez de vendê-las, quer trocar por velhas. As crianças o cercam e zombam dele.
– Lâmpadas?, disse uma outra escrava. – Vossa Alteza deve ter percebido que há uma lâmpada velha no palácio. Seu dono ficará contente quando encontrar uma novinha no lugar dela. Será que esse louco aceitará trocar a lâmpada sem pedir uma compensação pela troca?
A princesa, que não sabia dos poderes da lâmpada, mandou chamar o mago e propor a troca, que foi aceita imediatamente. O mago, com a lâmpada de Aladim em mãos, saiu apressado, deixando o cesto no meio de uma das ruas da cidade. Afastou-se para o campo e ali ficou até escurecer. Então, vendo-se sozinho, pegou a lâmpada e esfregou-a. O gênio apareceu, e o mago lhe ordenou:
– Leve o palácio que você construiu com todas as pessoas que estão dentro dele para a África, num lugar que eu lhe indicarei.
No dia seguinte, qual não foi a surpresa do sultão quando se levantou da cama e foi espiar de uma janela, como costumava fazer, o palácio de Aladim e sua filha. Viu apenas um espaço vazio: tudo tinha desaparecido! Furioso, ordenou que fossem buscar Aladim e o prendessem.
Aladim foi conduzido ao palácio. Ao chegar, os guardas tiveram o cuidado de fechar os portões, pois o povo, que amava Aladim e pressentia que desejavam matá-lo, parecia disposto a enfrentar tudo para impedir sua morte. Levaram-no à presença do sultão e este ordenou que o carrasco lhe cortasse a cabeça. O carrasco fez Aladim ficar de joelhos, tapou-lhe os olhos com uma venda e manteve-se à espera da ordem do sultão para dar o golpe fatal. Mas o grãovizir veio avisar o soberano de que a multidão lá fora, revoltada, armara um grande tumulto. O sultão, assustado, mandou libertar o genro. Aquele gesto acalmou a multidão.
A Aladim, que perguntava por que desejara matá-lo, o sultão disse, apontando-lhe o espaço vazio onde se localizava o palácio desaparecido:
– Você deve saber o que aconteceu com seu palácio. Onde está ele? Onde está minha filha? Encontre Badr al-Budur, ou eu mandarei que cortem sua cabeça e, dessa vez, ninguém me impedirá!
Aladim, espantado e confuso, conseguiu que o sultão lhe concedesse o prazo de quarenta dias para encontrar a princesa. Perturbado, foi de casa em casa perguntando se alguém sabia onde estava seu palácio. A maioria das pessoas julgavam que ele tinha perdido a cabeça e, comovidas, lamentavam sua sorte; outras zombavam dele.
Aladim retirou-se para o campo. Estava desesperado. Parou perto de um rio disposto a se lançar nas águas; antes, porém, resolveu dirigir uma prece a Deus. Aproximou-se da água para lavar o rosto e as mãos, quando, de repente, escorregou e quase caiu. Sem querer, acabou esfregando o anel que ainda levava no dedo. Eis que surge o gênio de novo e lhe diz:
– O que deseja? Estou pronto para obedecer ao dono do anel.
– Gênio, – respondeu Aladim, – salve minha vida, fazendo com que meu palácio retorne ao lugar em que foi construído.
– Isso eu não posso fazer, pois sou apenas um escravo do anel, não da lâmpada – respondeu o gênio.
Aladim pediu, então, que o transportasse para perto da janela de Badr al-Budur e, num instante, Aladim estava na África, junto à janela do quarto da princesa. Uma criada percebeu o rapaz e foi avisar a patroa. Badr al-Budur mostrou ao marido como entrar em seu quarto por uma porta secreta. Os dois abraçaram-se entre lágrimas quando se viram reunidos de novo depois de vários dias de ausência. A princesa contou o que acontecera e que o mago levava sempre consigo, atada ao pescoço, a lâmpada causadora daquela infelicidade. Aladim então teve uma idéia:
– Vou trocar de roupa com algum camponês da região, entrar numa dessas lojas onde se vendem remédios e poções e comprar um certo pó que você colocará na taça em que costuma beber. Quando o mago vier a seu quarto, finja que você está muito feliz com a presença dele, sorria muito e convide-o para jantar. Diga que você está com muita vontade de saborear o vinho típico da região. Ele irá trazer uma garrafa e você encherá sua taça de vinho. Quando forem beber, diga que é costume de seu país os apaixonados trocarem suas taças para beber desejando boa sorte um ao outro. Ele pegará a taça com o pó, beberá o vinho e o veneno.
A princesa prontamente concordou com tudo. Aladim comprou o pó e lhe deu. Para o jantar daquele dia, Badr al-Budur vestiu sua mais bela roupa e cobriu-se das jóias mais preciosas. Quando o mago veio a seu quarto, ela o recebeu sorridente e convidou-o a sentar-se a seu lado, coisa que jamais acontecera antes. O mago ficou ao mesmo tempo espantado com a beleza da princesa e admirado por ela o tratar daquela forma em vez de desprezá-lo, como vinha fazendo até aquele momento. Quando ela disse que desejava experimentar o vinho da região, o mago lhe falou das qualidades do vinho africano e pediu-lhe permissão para ir buscar um vinho excelente que ele reservava para uma ocasião especial.
– Pegue-o para nós – disse a princesa, mas volte logo. Ficarei esperando impacientemente a sua volta.
E lá se foi o mago buscar o vinho, todo contente. A princesa pegou uma taça e nela colocou o pó que Aladim lhe dera. Quando o mago voltou, puseram-se os dois à mesa para o jantar. Encheram-se as taças e Badr al-Budur disse ao mago:
– Não sei como aqui na África as pessoas que se amam fazem brindes para desejar boa sorte uma à outra. Nós, na China, trocamos de taças, brindando à saúde das pessoas que amamos.
Depois de dizer essas palavras, a princesa estendeu a mão, oferecendo sua taça ao mago, que fez o mesmo. O mago bebeu até a última gota, de uma vez.
Por fim, seus olhos reviraram e ele, pálido, caiu para trás, sem sentidos. Quase no mesmo instante, Aladim entrou no quarto, aproximou-se do mago e lhe tirou a lâmpada que trazia ao pescoço. Esfregou-a, então, e pediu que o gênio transportasse o palácio e tudo o que nele havia para o mesmo lugar da China onde fora construído. Em pouco tempo, seu desejo foi satisfeito.
Quando o sultão viu de novo o palácio e a filha e soube de tudo o que o mago tramara, pediu perdão a Aladim por o ter tratado tão injustamente. O corpo do mago foi abandonado no campo para ser devorado por animais e aves.
O sultão mandou que anunciassem a todo o povo as boas notícias; depois, proclamou dez dias de festa para comemorar o retorno de sua filha, a princesa Badr al-Budur, de Aladim e do palácio.
Não muitos anos depois, o sultão faleceu. A princesa era sua única herdeira e o poder supremo coube a Aladim. O novo sultão governou seus súditos com sabedoria e bondade. Badr al-Budur e Aladim tiveram filhos que se tornaram ilustres naquele reino.

Conto do livro As Mil e Uma Noites