Num reino da China, vivia um alfaiate muito pobre chamado Mustafá. Seu filho Aladim, um menino teimoso e desobediente, passava o dia todo nas ruas e praças da cidade. Com a morte do pai, Aladim se sentiu livre, não quis aprender uma profissão e assim viveu até os quinze anos.
Um dia, Aladim brincava numa praça com outros meninos quando chegou um estrangeiro e começou a observá-lo atentamente. Era um mago africano. Chamou o menino e lhe perguntou:
– Meu filho, seu pai não se chama Mustafá e é alfaiate?
– Sim, senhor, mas morreu há muito tempo – respondeu Aladim.
O mago, então, abraçou o menino derramando muitas lágrimas e dizendo:
– Ai, meu filho! Eu sou seu tio. Faz muito tempo que estou viajando na esperança de reencontrar meu irmão, mas você me diz que ele morreu! Só tenho um consolo: reconheço os traços de meu querido irmão em você e foi por isso que parei para olhá-lo.
Depois disso, o mago perguntou onde a mãe de Aladim morava e lhe deu um punhado de moedas para que o menino as entregasse a ela. Quando Aladim chegou a casa, contou o que acontecera e a mãe ficou espantada, pois não se lembrava de que o marido tivesse irmão ainda vivo.
No dia seguinte, Aladim brincava com outros meninos, quando de novo o mago se aproximou e lhe deu duas moedas de ouro, dizendo:
– Conte a sua mãe que esta noite eu irei visitá-la e que ela deve preparar um bom jantar, pois comeremos juntos.
A mãe de Aladim fez o que pôde para preparar um ótimo jantar. À noite, bateram à porta. Era o mago, que trazia vinho e muitas frutas. Pediu que a mulher lhe mostrasse onde Mustafá costumava se sentar e, chorando, beijou o lugar. Então, disse:
– Não se espante por não me ter visto desde que se casou com meu irmão Mustafá. Faz quarenta anos que eu deixei esta cidade e viajei por vários países até me estabelecer na África. Mas recentemente me deu uma grande vontade de rever meu querido irmão! Nada me deixou mais aflito do que a notícia de sua morte, mas me consolo vendo os traços dele nesse menino que é seu filho.
A mãe de Aladim contou, então, chorando, que o rapaz não queria saber de aprender uma profissão e vivia pelas ruas da cidade como um vagabundo. Um dia, teria de mandar que ele fosse buscar seu sustento em outra parte! Ao ouvir as queixas da mãe, o mago prometeu montar para o rapaz uma bela loja, cheia de tecidos finos, para que Aladim pudesse viver honestamente como comerciante.
Aladim ficou muito contente com aquela ideia, afinal tinha percebido que os comerciantes estavam sempre bem vestidos e eram muito estimados por todos. Depois dessa proposta, a mãe de Aladim não teve mais dúvidas de que aquele homem que se interessava pelo futuro do filho era mesmo seu tio.
Na manhã seguinte, o mago voltou à casa de Aladim. Levou o menino a uma loja fina e deixou que ele escolhesse a roupa que mais lhe agradasse. Depois, andaram pelas lojas e lugares mais luxuosos da cidade. Ao se despedir de mãe e filho, o mago disse:
– Amanhã, sexta-feira, as lojas estarão fechadas e não poderemos, por isso, alugar uma para Aladim, como eu pretendia fazer. Mas passearemos pelos jardins da cidade, onde as pessoas elegantes se encontram.
Na manhã seguinte, Aladim se levantou muito cedo e esperou, impaciente, o tio. Não cabia em si de alegria. Ao deixarem a casa, o mago africano lhe disse:
– Meu filho, hoje eu lhe mostrarei coisas belíssimas!
O mago conduziu Aladim para os arredores da cidade; no caminho, viram lindos palácios. E foram penetrando cada vez mais no campo até chegarem perto das montanhas. Aladim ficou muito cansado: ele jamais caminhara tanto!
– Coragem, sobrinho! Você verá um jardim que é mais belo do que todos quantos viu até agora. Já já chegaremos – disse o mago. LEIA MAIS, clicando na frase abaixo
Aladim, então, foi levado ainda mais longe. Por fim, chegaram a um lugar situado entre dois montes. O mago pediu que o menino juntasse uma grande quantidade de gravetos e com eles fez uma fogueira. Na lenha que queimava jogou um perfume muito forte. Levantou-se, nesse momento, uma grande nuvem de fumaça e o mago pronunciou certas palavras mágicas que Aladim não conseguiu compreender.
De repente, a terra tremeu e se abriu diante dos dois, deixando ver uma pedra com uma argola de bronze no meio. Aladim quis fugir, mas o mago o deteve e lhe deu um violento tapa no rosto. Depois, vendo o menino chorar e se lamentar, disse:
– Não tenha medo. Obedeça-me e tudo sairá bem. Você será recompensado. Embaixo desta pedra, há um tesouro que fará de você o homem mais rico do mundo. E só você poderia tocar esta pedra e erguê-la. Eu não posso fazer isso. Venha, segure a argola, pronunciando o nome de seu pai e de seu avô, e levante a pedra.
Aladim obedeceu. Ao erguer a pedra, viu-se aparecer uma caverna e uma escada que levava para debaixo da terra. O mago fez estas recomendações ao menino:
– Meu filho, escute bem o que eu vou lhe dizer. Desça por esta escada. No final dela, você verá uma porta aberta. Entre. Você passará por três grandes salas. Em cada uma delas, verá quatro grandes vasos de bronze cheios de ouro e prata. Mas não toque neles! Passe pelas três salas sem parar. Cuidado para não tocar nas paredes: isso provocaria sua morte. No fim da terceira sala, há uma porta que dá acesso a um jardim. Atravesse esse jardim e você chegará a uma escada de cinqüenta degraus. Ao subir, estará num terraço onde verá uma lâmpada acesa. Apague-a e traga-a para mim. Pegue as frutas que quiser das árvores do jardim.
O mago, então, tirou do dedo um anel e o deu a Aladim, dizendo que ele o protegeria se algo de ruim acontecesse. Aladim fez como o mago lhe recomendara: desceu à caverna, atravessou as salas, subiu a escada e pegou a lâmpada. Depois, parou no jardim.
Os frutos das árvores que ali estavam brilhavam; havia-os de todas as cores; os brancos eram, na verdade, pérolas; os transparentes, diamantes; os vermelhos, rubis; os verdes, esmeraldas; os violetas, ametistas, e assim por diante. Aladim, que não sabia o valor daquelas pedras preciosas, ficou decepcionado, pois esperava encontrar figos, uvas e outras frutas comuns na China. Em todo caso, encheu os bolsos com aquelas pedras coloridas que para ele não tinham valor. Depois, voltou até a entrada da caverna, onde o mago o esperava com a maior impaciência.
Ao vê-lo, Aladim disse:
– Tio, por favor, estenda a mão para me ajudar a subir!
– Antes me passe a lâmpada para que ela não atrapalhe você – respondeu o mago.
Aladim, porém, respondeu que só lhe daria a lâmpada quando tivesse saído da caverna. O mago, irritado, lançou mais perfume na fogueira e pronunciou palavras mágicas. Nisso, a pedra que servia de porta para a caverna voltou a seu lugar, deixando Aladim preso embaixo da terra!
O suposto tio de Aladim era, na verdade, conforme já dissemos, um mago africano que, depois de investigar muito, descobrira a existência da lâmpada capaz de tornar seu dono o homem mais poderoso do mundo. Descobrira que o objeto estava embaixo da terra no centro da China. Mas ele mesmo não podia entrar ali nem pegar a lâmpada, e por isso decidira usar Aladim, que lhe pareceu útil aos seus objetivos. Quando viu que seus planos deram errado, decidiu retornar à África.
Ao se ver enterrado vivo, Aladim entrou em desespero: gritou sem parar pelo tio, prometendo entregar-lhe a lâmpada. Chorava em meio à escuridão, julgando que seu fim tinha chegado. Ficou dois dias assim, sem comer nem beber. No terceiro dia, ao erguer as mãos para dirigir suas preces a Deus, sem querer acabou esfregando o anel que o mago lhe dera. De repente, como que surgindo das profundezas da terra, apareceu diante dele um gênio enorme, com um aspecto terrível, e disse:
– O que deseja? Estou pronto para obedecer! Sou escravo de quem possui o anel.
– Seja você quem for, faça-me sair deste lugar! – disse Aladim.
Bastou dizer essas palavras e a terra se abriu; Aladim num segundo já estava de novo no lugar exato para onde o mago o tinha levado. O menino suspirou aliviado, agradeceu ao céu e tomou o caminho de volta para a cidade. Chegou a sua casa muito cansado e fraco pelo jejum de três dias. A mãe preparou para o filho a comida que tinha em casa. Aladim comeu e bebeu, depois contou à mãe tudo o que tinha acontecido.
Naquela noite Aladim dormiu profundamente, pois passara acordado aqueles três dias embaixo da terra. Acordou bem cedo e disse à mãe que estava com fome.
– Ai, meu filho! – respondeu a mãe, não tenho nem um pedacinho de pão para lhe dar! Mas fiei um pouco de algodão e vou ver se consigo vendê-lo para poder comprar pão e algo para o nosso almoço.
– Minha mãe, – disse Aladim – me dê a lâmpada que eu trouxe ontem. Vou vendê-la e conseguir algum dinheiro para o dia de hoje.
A mãe foi buscar a lâmpada, que estava um pouco suja. Então, trouxe água e areia para limpá-la. Quando a esfregou, eis que um gênio, de tamanho gigantesco e de aspecto horrível, apareceu à sua frente e disse com voz de trovão:
– O que deseja? Estou pronto para lhe obedecer como escravo que sou de quem possui a lâmpada!
A mãe de Aladim desmaiou. Aladim tomou a lâmpada na mão e ordenou:
– Estou com fome, traga-me algo para comer!
O gênio se retirou e voltou logo depois com uma bandeja de prata; em cima dela, havia doze pratos também de prata cheios dos quitutes mais saborosos, além de vinho e pão. Colocou tudo sobre a mesa e desapareceu.
Quando a mãe de Aladim se recuperou, ficou espantada com o que viu. O filho insistiu para que fossem comer, depois ele lhe contaria o que tinha acontecido. Puseram-se à mesa e comeram com muito apetite. Era seu café da manhã, mas a comida que o gênio trouxera também foi suficiente para o almoço, o jantar e mais duas refeições do dia seguinte. Quando a mãe quis saber como aquilo tudo viera parar em sua casa, Aladim contou o que ocorrera. Disse que aquele gênio da lâmpada era completamente diferente do gênio do anel, que ele vira na caverna.
– Ai, meu filho, é melhor dar um fim na lâmpada ou no anel em vez de correr de novo o risco de morrer de medo diante desses gênios! Gênios são demônios, como dizia o nosso profeta Maomé!
Mas Aladim convenceu sua mãe da necessidade de guardar o anel e a lâmpada. No dia seguinte, nada havia para comer. Aladim colocou um dos pratos de prata embaixo da roupa e saiu para vendê-lo.Dirigiu-se a um mercador muito esperto, que resolveu enganar o menino. Ele percebera que Aladim não tinha a menor idéia de como era valioso aquele objeto. Deu-lhe uma moeda de ouro. Com ela, o menino comprou pão, dando o troco a sua mãe, para que ela comprasse comida. E assim foram vivendo; quando acabavam os mantimentos, Aladim vendia um prato para o mercador. Depois que os pratos acabaram, vendeu a bandeja, recebendo por ela dez moedas de ouro.
Quando não havia mais moedas, Aladim recorreu à lâmpada. Esfregou-a e viu surgir o gênio. De novo, Aladim pediu algo para comer, e o gênio providenciou as mesmas coisas que da primeira vez. A história se repetiu. Quando só restaram os objetos de prata, Aladim resolveu vender um dos pratos. Mas dessa vez topou com um ourives, um senhor honesto que mostrou a Aladim quanto valia realmente o prato: setenta e duas moedas de ouro!
Daquele momento em diante, Aladim só vendeu os objetos para aquele senhor. E assim mãe e filho iam vivendo: recorriam à lâmpada, mas viviam modestamente.
Passaram-se muitos anos. Aladim descobriu que as pedras que trouxera da caverna não eram vidro pintado, como imaginava, mas pedras preciosas valiosíssimas.
Um dia, Aladim passeava pela cidade, quando escutou alguém anunciar a ordem do sultão: todas as lojas e as portas das casas deveriam ser fechadas, todos deveriam ir para dentro de suas casas e lá permanecer para que Badr al-Budur, a filha do sultão, pudesse ir ao banho e retornar ao palácio.
Desejando ver o rosto da moça, Aladim se escondeu atrás da porta dos banhos. Quando a filha do sultão chegou perto da porta, tirou o véu, e Aladim pôde ver seu rosto através de uma fresta. Era a primeira vez em sua vida que Aladim via uma mulher sem véu que não sua mãe. Ficou encantado com aquela visão. Badr al-Budur era linda; tinha olhos grandes e muito vivos, nariz e boca bem proporcionados; em resumo, todo seu rosto era perfeito. Aladim voltou para casa triste e perturbado e se deixou cair no sofá, pensando somente na princesa.
No dia seguinte, contou à mãe o que tinha visto: a jóia mais preciosa do mundo, Badr al-Budur:
– É por isso que você me viu tão triste ontem, minha mãe. Estou tão apaixonado pela princesa que não vou ter sossego enquanto não a pedir em casamento.
Ao ouvir as palavras do filho, a mãe de Aladim caiu na gargalhada, achando que aquela idéia não tinha pé nem cabeça. Aladim perdera o juízo? Esquecera que era filho de um alfaiate? Através de quem ele ousaria pedir ao sultão a mão de sua filha em casamento?
– Através de você, minha mãe – respondeu Aladim. Não mudarei de idéia. Não me negue este favor, se não quiser ver seu filho morto.
A mãe de Aladim tentou em vão convencê-lo a desistir da idéia: a beleza da princesa tinha provocado uma emoção muito forte no coração do filho. Lembrou, porém, que era costume oferecer presentes ao sultão quando se ia pedir-lhe alguma coisa. Ora, que presente à altura do pedido seu filho poderia oferecer? Afinal, ele queria a mão da própria filha do sultão! Aladim escutou pacientemente; depois, mostrou-lhe as pedras preciosas que ele, quando menino, tomara por vidro sem valor. Vistas à luz do dia, brilharam intensamente, enchendo os dois de admiração. Aquele era um presente à altura.
No dia seguinte, Aladim acordou cedo e, impaciente, foi despertar a mãe para que ela fosse até o palácio participar da audiência com o sultão. Ela se vestiu rapidamente, colocou as pedras num vaso de porcelana e partiu. Mas só conseguiu ser recebida muitos dias depois. O grão-vizir a levou até o sultão. Quando o soberano viu as pedras preciosas, tão perfeitas e brilhantes, ficou espantado:
– Que belo presente! Nunca vi nada mais perfeito e valioso! Este presente é digno de minha filha.
Mas seu filho deve esperar mais três meses e depois voltar a fazer o pedido! Aladim ficou desconsolado com a resposta, mas não desistiu. Três meses depois, sua mãe voltava a falar com o sultão, que já se havia esquecido totalmente daquele primeiro encontro. O grão-vizir o aconselhou a pedir pelo seu consentimento um preço tão alto que aquele desconhecido não conseguisse pagar; assim, ele desistiria de proposta tão insensata. O sultão disse à mãe de Aladim:
– Minha senhora, promessa é promessa. Mas eu não posso dar minha filha em casamento sem saber se ela será recompensada por isso e terá uma vida confortável. Assim, concedo a mão dela desde que seu filho me traga quarenta bandejas de ouro maciço cheias daquelas pedras preciosas que vocês me deram da última vez. Elas devem ser carregadas por quarenta escravos negros conduzidos por quarenta escravos brancos, todos vestidos luxuosamente. Eis as condições!
Quando a mãe lhe contou as exigências do sultão, Aladim esfregou a lâmpada e deu ordens para que o gênio providenciasse tudo o que o soberano queria. No mesmo dia, lá se foram os escravos, vestidos como reis, em direção ao palácio; à sua passagem, a multidão parava para olhá-los com espanto e admiração.
Quando chegaram diante do sultão, a mãe de Aladim dirigiu-lhe a palavra:
– Senhor, meu filho Aladim sabe que estes presentes não estão à altura da princesa, mas espera que eles agradem ao sultão e sua filha.
Vendo tamanhas riquezas e a rapidez com que Aladim conseguira atender suas exigências, o rei não teve mais dúvidas e prometeu a mão da filha.
Quando soube da notícia, Aladim pediu ao gênio da lâmpada que o vestisse como um rei e assim se dirigiu ao palácio. Seu aspecto e suas atitudes causaram admiração geral. Mas, quando o sultão pediu que Aladim permanecesse no palácio para que a cerimônia de casamento fosse realizada naquele mesmo dia, o rapaz recusou:
– Antes preciso construir um palácio digno de receber a princesa. Peço a Vossa Alteza que me conceda um terreno para que eu erga nele uma construção à altura de vossa filha.
Mal chegou a sua casa, Aladim fez surgir o gênio e pediu que ele erguesse no menor tempo possível um palácio magnífico em frente ao do sultão. O sol se escondia no horizonte. Na manhã seguinte, o gênio disse a Aladim que o palácio estava pronto. Era magnífico, coberto de ouro, prata e pedras preciosas, luxuoso como nenhum outro jamais tinha havido. A notícia daquela maravilha se espalhou rapidamente. Ninguém conseguia compreender como uma construção tão magnífica surgira de um dia para o outro.
Finalmente, a princesa Badr al-Budur e Aladim se casaram. O pai da moça não cansava de admirar a beleza do palácio e as qualidades de Aladim.
Mas eis que alguns anos depois o mago africano, que sem querer tornara possível a felicidade de Aladim, voltou a pensar nele. Com seus instrumentos mágicos, conseguiu descobrir que, em vez de morto embaixo da terra, o rapaz estava bem vivo, casado com uma princesa, amado e respeitado por todos. Ele havia descoberto o segredo da lâmpada! Furioso, o mago jurou vingar-se. Imediatamente, partiu em viagem e logo chegou ao reino da China, onde morava Aladim. Ali informou-se sobre ele e seu palácio, decidido a fazer de tudo para recuperar a lâmpada.
Por infelicidade, Aladim tinha deixado o palácio para caçar e permaneceria vários dias longe de casa.
– Está na hora de agir! – disse o mago ao saber da ausência de Aladim.
Depois se dirigiu a um fabricante de lâmpadas e comprou uma dúzia, brilhantes de tão novas que eram. Colocou-as num cesto e se dirigiu ao palácio de Aladim. Por ali, pôs-se a anunciar repetidamente, andando de um lado para o outro:
– Quem quer trocar lâmpadas velhas por novas?
Todos os que o viam, pensavam que se tratava de um doido. As crianças zombavam dele. Ouvindo o barulho, a princesa mandou que uma escrava fosse ver o que estava acontecendo.
– Princesa, – disse a escrava, – está aqui na frente um doido com um cesto cheio de lâmpadas novas em folha. Imagine só: em vez de vendê-las, quer trocar por velhas. As crianças o cercam e zombam dele.
– Lâmpadas?, disse uma outra escrava. – Vossa Alteza deve ter percebido que há uma lâmpada velha no palácio. Seu dono ficará contente quando encontrar uma novinha no lugar dela. Será que esse louco aceitará trocar a lâmpada sem pedir uma compensação pela troca?
A princesa, que não sabia dos poderes da lâmpada, mandou chamar o mago e propor a troca, que foi aceita imediatamente. O mago, com a lâmpada de Aladim em mãos, saiu apressado, deixando o cesto no meio de uma das ruas da cidade. Afastou-se para o campo e ali ficou até escurecer. Então, vendo-se sozinho, pegou a lâmpada e esfregou-a. O gênio apareceu, e o mago lhe ordenou:
– Leve o palácio que você construiu com todas as pessoas que estão dentro dele para a África, num lugar que eu lhe indicarei.
No dia seguinte, qual não foi a surpresa do sultão quando se levantou da cama e foi espiar de uma janela, como costumava fazer, o palácio de Aladim e sua filha. Viu apenas um espaço vazio: tudo tinha desaparecido! Furioso, ordenou que fossem buscar Aladim e o prendessem.
Aladim foi conduzido ao palácio. Ao chegar, os guardas tiveram o cuidado de fechar os portões, pois o povo, que amava Aladim e pressentia que desejavam matá-lo, parecia disposto a enfrentar tudo para impedir sua morte. Levaram-no à presença do sultão e este ordenou que o carrasco lhe cortasse a cabeça. O carrasco fez Aladim ficar de joelhos, tapou-lhe os olhos com uma venda e manteve-se à espera da ordem do sultão para dar o golpe fatal. Mas o grãovizir veio avisar o soberano de que a multidão lá fora, revoltada, armara um grande tumulto. O sultão, assustado, mandou libertar o genro. Aquele gesto acalmou a multidão.
A Aladim, que perguntava por que desejara matá-lo, o sultão disse, apontando-lhe o espaço vazio onde se localizava o palácio desaparecido:
– Você deve saber o que aconteceu com seu palácio. Onde está ele? Onde está minha filha? Encontre Badr al-Budur, ou eu mandarei que cortem sua cabeça e, dessa vez, ninguém me impedirá!
Aladim, espantado e confuso, conseguiu que o sultão lhe concedesse o prazo de quarenta dias para encontrar a princesa. Perturbado, foi de casa em casa perguntando se alguém sabia onde estava seu palácio. A maioria das pessoas julgavam que ele tinha perdido a cabeça e, comovidas, lamentavam sua sorte; outras zombavam dele.
Aladim retirou-se para o campo. Estava desesperado. Parou perto de um rio disposto a se lançar nas águas; antes, porém, resolveu dirigir uma prece a Deus. Aproximou-se da água para lavar o rosto e as mãos, quando, de repente, escorregou e quase caiu. Sem querer, acabou esfregando o anel que ainda levava no dedo. Eis que surge o gênio de novo e lhe diz:
– O que deseja? Estou pronto para obedecer ao dono do anel.
– Gênio, – respondeu Aladim, – salve minha vida, fazendo com que meu palácio retorne ao lugar em que foi construído.
– Isso eu não posso fazer, pois sou apenas um escravo do anel, não da lâmpada – respondeu o gênio.
Aladim pediu, então, que o transportasse para perto da janela de Badr al-Budur e, num instante, Aladim estava na África, junto à janela do quarto da princesa. Uma criada percebeu o rapaz e foi avisar a patroa. Badr al-Budur mostrou ao marido como entrar em seu quarto por uma porta secreta. Os dois abraçaram-se entre lágrimas quando se viram reunidos de novo depois de vários dias de ausência. A princesa contou o que acontecera e que o mago levava sempre consigo, atada ao pescoço, a lâmpada causadora daquela infelicidade. Aladim então teve uma idéia:
– Vou trocar de roupa com algum camponês da região, entrar numa dessas lojas onde se vendem remédios e poções e comprar um certo pó que você colocará na taça em que costuma beber. Quando o mago vier a seu quarto, finja que você está muito feliz com a presença dele, sorria muito e convide-o para jantar. Diga que você está com muita vontade de saborear o vinho típico da região. Ele irá trazer uma garrafa e você encherá sua taça de vinho. Quando forem beber, diga que é costume de seu país os apaixonados trocarem suas taças para beber desejando boa sorte um ao outro. Ele pegará a taça com o pó, beberá o vinho e o veneno.
A princesa prontamente concordou com tudo. Aladim comprou o pó e lhe deu. Para o jantar daquele dia, Badr al-Budur vestiu sua mais bela roupa e cobriu-se das jóias mais preciosas. Quando o mago veio a seu quarto, ela o recebeu sorridente e convidou-o a sentar-se a seu lado, coisa que jamais acontecera antes. O mago ficou ao mesmo tempo espantado com a beleza da princesa e admirado por ela o tratar daquela forma em vez de desprezá-lo, como vinha fazendo até aquele momento. Quando ela disse que desejava experimentar o vinho da região, o mago lhe falou das qualidades do vinho africano e pediu-lhe permissão para ir buscar um vinho excelente que ele reservava para uma ocasião especial.
– Pegue-o para nós – disse a princesa, mas volte logo. Ficarei esperando impacientemente a sua volta.
E lá se foi o mago buscar o vinho, todo contente. A princesa pegou uma taça e nela colocou o pó que Aladim lhe dera. Quando o mago voltou, puseram-se os dois à mesa para o jantar. Encheram-se as taças e Badr al-Budur disse ao mago:
– Não sei como aqui na África as pessoas que se amam fazem brindes para desejar boa sorte uma à outra. Nós, na China, trocamos de taças, brindando à saúde das pessoas que amamos.
Depois de dizer essas palavras, a princesa estendeu a mão, oferecendo sua taça ao mago, que fez o mesmo. O mago bebeu até a última gota, de uma vez.
Por fim, seus olhos reviraram e ele, pálido, caiu para trás, sem sentidos. Quase no mesmo instante, Aladim entrou no quarto, aproximou-se do mago e lhe tirou a lâmpada que trazia ao pescoço. Esfregou-a, então, e pediu que o gênio transportasse o palácio e tudo o que nele havia para o mesmo lugar da China onde fora construído. Em pouco tempo, seu desejo foi satisfeito.
Quando o sultão viu de novo o palácio e a filha e soube de tudo o que o mago tramara, pediu perdão a Aladim por o ter tratado tão injustamente. O corpo do mago foi abandonado no campo para ser devorado por animais e aves.
O sultão mandou que anunciassem a todo o povo as boas notícias; depois, proclamou dez dias de festa para comemorar o retorno de sua filha, a princesa Badr al-Budur, de Aladim e do palácio.
Não muitos anos depois, o sultão faleceu. A princesa era sua única herdeira e o poder supremo coube a Aladim. O novo sultão governou seus súditos com sabedoria e bondade. Badr al-Budur e Aladim tiveram filhos que se tornaram ilustres naquele reino.
Conto do livro As Mil e Uma Noites
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